Lágrimas por Prince, pelo Kid Abelha, pela década de 80...

Falo com saudosismo da década de 80.

Mas falo incompleta e musicalmente apenas.

Falo com tristeza do fim do Kid, que primeiro foi Kid Abelha e os Abóboras Selvagens e antes foi o Kid Abelha. Isso mesmo, foi encurtando até chegar ao fim.

Paula Toller, nossa musa eterna, desde que estreou no Chacrinha, Velho Guerreiro (como eram boas as tardes de sábado), com cabelos curtos e loiros, "fazendo amor de madrugada", conquistou uma legião de fãs, com suas letras bem trabalhadas e melodias Pop, rasgadas pelo sax cortante de George Israel.

Nada a ver com as péssimas e apelativas produções musicais de hoje, que me afastam das rádios e programas musicais modernos.

Ouvir música deveria remeter a escutar algo agradável, e isso o Kid Abelha sempre fez com maestria.

Mesmo sua letras algumas vezes eróticas (podem pesquisar) não escancaravam a verborreia vulgar que hoje temos o desprazer de constatar.

Pobre juventude a de hoje...

Falo também da morte precoce do Prince. Andrógino, recluso, excêntrico. Não se rendeu à apologia fácil da fama. Vivia enclausurado e sabe-se lá quais tormentos o assombravam.

Mas de um talento absurdo e exímio instrumentista, candidato à galeria dos grandes ícones Pop contemporâneos.

Inesquecível quando da transmissão televisiva do segundo Rock in Rio de 1991. Esperávamos ansiosamente o início de seu show, por volta do quase início da madrugada. Esperávamos "Purple Rain" e seus acordes melódicos da guitarra.

Foi quando a besta mor do clã dos Bush, George Bush, iniciou a sangrenta primeira Guerra do Iraque, cujo filho ignóbil iria dar seguimento uma década depois (família do Diabo, podem procurar o 666 apocalíptico em seus genes).

Não tínhamos a tecnologia de hoje em dia, mas lembro-me perfeitamente da tela dividida: de um lado as bombas explodindo em Bagdá, num espetáculo pirotécnico que escondia a morte e a destruição; do outro Prince acompanhado de riffs angustiados em sua guitarra branca em forma de arco, dizendo : "Rio, há uma guerra acontecendo... não sei o que está acontecendo, mas eu... acho que estamos em melhor situação... vivendo para o amor".

Inesquecível...

Isto para não falar do discurso do louco e irresponsável poeta Cazuza e seu Barão Vermelho, este no primeiro Rock in Rio de 1985, diante da perspectiva da posse de Tancredo Neves como Presidente: "valeu... que o dia nasça lindo pra todo mundo amanhã... um Brasil novo... a rapaziada esperta... valeu". Não aconteceria, porém.

Outro que se foi precocemente, com a prudência inferior ao talento, o qual foi seguido um pouco mais tarde por Renato Russo e suas letras de protesto e engajamento social.

A letra de "Perfeição", do Legião Urbana, é um soco no estômago. Ouçam vocês mesmos.

Morreu Prince, morreu Cazuza; morreu também Renato Russo. Findou-se a Legião.

Morreu também David Bowie. Mas este confesso que não acompanhei sua dita genialidade. Mas não me esqueço da tragédia de "Christiane F, 13 anos, drogada e prostituída", que iniciou sua jornada ao inferno com a heroína ao assistir Bowie em Berlim, no final da década de 70. Outro soco no estômago, juntamente com "Feliz Ano Velho" de Marcelo Rubens Paiva, de 1982, no tocante à literatura.

Morre agora mais um pouco de nossa alegria com o fim do Kid.

Mas sempre há de nascer algo novo e bom.

Esperemos.