Feito livro

na primeira vez que a levei lá em casa, ela não reparou na toalha molhada em cima da cama, no cheiro do banheiro ou no calor que meu quarto faz. passou direto e foi de encontro a minha estante de livros. pegou manga espada, da sinhá, e folheou. após alguns segundos botou cuidadosamente de volta. observou novamente a estante e abriu as brumas de ávalon, o cheirou feito cangote, sorriu.

"esse daqui tá no ponto, bem novinho".

eu apenas observava a beleza que eram seus olhos vagando com atenção por cada página. no fim da tarde levou três para casa. na outra semana nos encontramos na praia da redinha, ela devolveu dois. no outro encontro, no cinépolis do norte shopping, me entregou o outro.

e sempre que nos encontrávamos eu levava mais um livro para ela, na esperança de que, teoricamente, a visse, no mínimo, mas uma vez. sabe, essa estratégia dos livros até que tem dado bastante certo. foda é se um dia eu inventar de começar a emprestar "esse remendado músculo de amar", como diz a música, e ela resolver não voltar no próximo encontro.

Gonzaga Neto
Enviado por Gonzaga Neto em 25/04/2016
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