AS INÚTEIS LIÇÕES DE CHERNOBYL

Tenho lido sobre os 30 anos do terrível desastre nuclear de Chernobyl.
Li sobre a sucessão de erros que culminaram na tragédia.
Sobre o despreparo dos operadores da usina.
Sobre a irresponsabilidade do governo soviético ao tentar esconder o fato.
Sobre a demora (mais de 36 horas) em evacuar os habitantes da hoje cidade-fantasma de Pripyat, a qual foi construída para abrigar as famílias dos trabalhadores da usina nuclear.
Li sobre o relato da morte de 31 pessoas, inclusive 13 crianças de uma creche próxima ao reator, logo de imediato ao acidente.
Isto posto para não falar da posterior imolação de vidas que foram deslocadas para o socorro e para as obras de contenção do vazamento, sem proteção adequada, incineradas pela força da radiação.
Curiosamente não tenho lido com exatidão sobre a continuidade das prováveis mortes relacionadas à radiação ionizante, mesmo porque não há notificação adequada, mas pude verificar estupefato que "mortes estão sendo contabilizadas", como numa fria e negligente pesquisa estatística.
Li ainda sobre as idosas que insistem em residir na área de exclusão de 2500 Km ao redor da usina, decretada pelo governo Ucraniano, em sua maioria viúvas, alimentando-se de vegetais e tubérculos plantados em solo contaminado.
A quem se sensibilizar, as fotografias disponíveis na internet retratando o atual estado das ruínas de Pripyat, com seus edifícios, salas-de-aula, hotel, ginásio esportivo, piscina e parque-de-diversão abandonados à eternidade, são perturbadoras.
As máscaras de gás deixadas para trás durante a apressada evacuação remetem aos campos de extermínio nazistas e às armas químicas utilizadas contra o povo Curdo.
A roda-gigante imóvel contempla o vazio, revelando um cenário ao mesmo tempo poético e catastrófico.
E pensar que o cofre de contenção de concreto colocado sobre o núcleo do reator 4 que explodiu em 1986, dá sinais de rachaduras cada vez mais evidentes.
Talvez um alerta real sobre o risco que corremos...
Todavia dizem os experts que, se tudo correr como se espera, o território isolado do mundo estará apto a receber habitantes humanos em segurança daqui a 24.000 anos...
É estarrecedor e dolorosamente real. Não é ficção de cinema.
Não obstante esse enredo mórbido, ainda percebemos com indignada perplexidade: alguns países se mantém altamente dependentes e produtores da energia nuclear, como a França, os EUA e o Japão.
Quem se esqueceu de Fukushima, em 2011?
Em Chernobyl foi erro técnico. Já em Fukushima foi a força da natureza.
Já não são suficientes as lições?
As vidas perdidas nada nos ensinaram?
Será que devemos brincar de Deus com os núcleos atômicos?
Até onde iremos com tanta soberba?
A única ressalva porém, diante de toda essa hecatombe nuclear, é a inesperada e surpreendente proliferação de vida animal selvagem, em paralelo a 3 décadas de forçada ausência humana: peixes, coelhos, alces, cervos, lobos, linces e cavalos selvagens tem se mostrado em bandos cada vez maiores e aparentemente saudáveis aos olhos automatizados dos dispositivos de filmagem.
Como explicar isso?
Seria a infestação humana mais deletéria e mortal que a própria ameaça radioativa?
Há que se muito pensar sobre o que estamos fazendo neste mundo...


 
Max Rocha
Enviado por Max Rocha em 29/04/2016
Reeditado em 07/04/2021
Código do texto: T5619922
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