Nosso Rio Doce

Hum...chegamos, a porteira estava fechada,Maria desceu do carro e a abriu,a abertura se fez rapidamente foi só livrar a tramela e a porteira deslizou cantando ,feito um coral em dessonancia.

O carro que era branco estava marrom, era como chocolate em pó tamanha a poeira.

Começamos a andar na estradinha de terra dentro da fazenda.ao longe víamos a sede,os cachorros viam correndo nos receber com os rabos eriçados, balançando de alegria e reconhecimento. Estávamos ávidos pela chegada, queríamos esticar as pernas que estavam grossas de tamanho inchaço. O outono havia chegado .Na varanda as folhas cobriam o piso de cimento vermelho batido feito um tapete persa,a beleza era imensurável. Olhávamos tudo com imensa curiosidade e vontade de descansar , algo não estava bem.Na frente da casa o velho pé de Pequi curvava como se chorasse algo que não sabíamos. As araras gritavam um som em desespero como se a revolta tomasse conta das emoções. Os sapos coaxavam um som como se estivessem a discutir alguma situação em descontrole. Maria também percebia tudo,era como se o tempo andasse devagar nos preparando para uma notícia trabalhosa.Entramos na casa ,a quietude nos incomodava e eu gritei:

"Oh de casa" !

Ninguém veio nos receber,algo estava muito errado. Maria repetidamente dizia:

-Tem algo errado! Cadê o povo dessa casa? É cedo e hoje não tem missa.

Fomos até o galinheiro,de certo haveria de ter alguém lá pra nós receber. Mais nada! os ovos do dia ainda não tinham sido recolhidos,estavam em prontidão alegrando os ninhos.

Aproveitamos e chegamos até a pocilga o cheiro estava insuportável, sinal que ninguém ainda tinha passado por lá. Fomos ao lado oposto no curral ainda estavam lá mimosa e malhada e muito pouco a comer,olhei as mamas e ambas estavam com elas cheias de leite,arrebentando prestes a estourar, assim era claro que o leite ainda não tinha sido retirado. Não nos restava mais nada,não podíamos voltar sem apurar o acontecido.

A cada local que chegávamos a paisagem nos mostrava que algo não estava bem.Maria estava exausta e eu preocupado com ela queria lhe proporcionar o descanso merecido.Ela era de idade avançada e haveria de estar querendo um café quente.

A medida em que descíamos o planalto mais intrigados ficávamos.Se continuassemos daquele jeito íamos nos encontrar com o Rio e de certo lá ninguém estaria,nao tínhamos costumes de ir ao Rio naquele horário .Entretanto nossos pés e nosso corações nos direcionava às águas do Rio ,Nosso grande rio, que nos alimentava e alegrava com sua fartura e sua cabeleira longa .oh Deus quanta beleza e generosidade.Avistamos nosso mestre , de longe já se via um aglomerado de pessoas que rezavam fervorosamente e choravam em compulsão. Eu triste cheguei arredio, timidamente e desconfiado,com medo de uma má notícia perguntei :

-Cadê mamãe? cadê papai? e ioiô, mãe branca?

-Cadê meu povo gente ? Aconteceu alguma coisa grave?

-Morreu alguém?

-Me diga gente porque a missa e o chororo?

-Quem morreu?

-Sinho Bento então saiu do meio do povo,arregaçou as mangas ,olhou bem pro Rio e disse:

-Ainda pergunta quem morreu seu moço?

-Não enxerga não?

E copiosamente pediu o povo pra abrir caminho.Apontou para o Rio e falou:

É nosso doce Rio doce que está indo,morrendo, matando e morrendo !

É nosso agora amargo Rio doce.que morre aos poucos; respirando seus últimos momentos ...

É nosso Rio doce!