Heterofobia - A lenda

Lenda é uma coisa que as pessoas, embora não seja verdade, cultivam e repassam. E tudo bem, lendas fazem parte da cultura. Mas essa, a tal da heterofobia, não é recomendável recontar para os filhos dos nossos filhos, mesmo que ela infelizmente tenha seu lugar ocupado na cultura e tenha dado muito o que falar. É até vergonhoso desgastar palavras para remontar o cenário imaginário dessa estória. Enfim.

Não se sabe ao certo como e onde começaram os boatos de que os homossexuais repudiavam os heterossexuais. Talvez a aversão tenha surgido no mesmo momento em que surgiu a homofobia: quando começamos a existir. Os aceitos e muito bem quistos pela sociedade reclamam que são ofendidos e maltratados pelos gays, lésbicas, bis, trans, drags, travestis, queers e toda a comunidade não aceita e mal quista. Mas é uma lenda engraçada a da heterofobia. Não tem homicídio. Não tem xingamento. Não tem ameaça. Não tem expulsão. Não tem piadas. Não tem espancamento. Não tem argumento vazio. Não tem religião como pretexto. Não tem discurso sobre privilégio ressignificando direito. O que eu concluo dessa lenda é que as vítimas da heterofobia são tão falsas quanto sua própria existência. Que fobia se pode ter de um modelo imposto a ser seguido? E eu pensando que ser heterossexual era fácil. Mãos entrelaçadas no meio da rua e ninguém nem aí, casamento aceito e motivo de orgulho para a família, documentos apresentados sem nenhum olhar de repúdio por causa do nome social, representação nos altos cargos, na política e na mídia e muitos outros benefícios simplesmente por gostar do sexo oposto.

Mas não. Pelo visto ser minoria que é fácil e nós que tornamos a vida de vocês um deboche, um inferno. Somos nós que estamos destruindo com a família tradicional brasileira. Mas o que nós temos a ver com os pais heteros que abandonam ou com os pares heteros que traem? Somos nós que estamos dando más exemplos para as crianças. Mas o que nós temos a ver com a indiferença com que elas são tratadas por vocês, heteros? Talvez alguns de nós não sejam boas pessoas. Alguns de vocês também não, afinal. Até porque aí entramos na questão de caráter, não de sexualidade. Só não nos digam que vocês sofrem heterofobia por apenas devolvermos aquilo que vocês nos dão: ódio. Não é uma maneira certa de resolver as coisas, mas convenhamos que essa maneira certa não começa por nós.