TOC e o Último Botão da Camisa Polo

-Toc, Toc,

-Quem é?

-Sou eu.

-Eu quem?

-Os seus problemas.

-Não sou quem você pensa.

-Não é você que gosta que tudo seja certinho no seu lugar?

-Não é bem assim.

Eu mudo a caneta de lugar.

-Não mexe, acabei de arrumar.

-O que acha disso?

-Só acho que você é muito chato.

-Chato? Só mudei a caneta de lugar.

-Você me irrita.

-Eu sei, TOC é chato.

-Não tenho TOC.

-Acho que sim.

-Desabotoa esse botão da camisa.

-Viu? Você tem sim. Se controla.

-Não consigo, as coisas tem que ser como eu quero, só assim me sinto melhor.

-Sua vida é como sua casa, tá tudo arrumado, não tem nada fora do lugar, até os mínimos detalhes.

-Porque eu tiraria as coisas do lugar?

-Para sentir que você não vai morrer se isso acontecer. O mundo continuará o mesmo.

-Mas eu não.

-Olhe ao seu redor. O que vê?

-Vejo que tudo está organizado.

-Está mesmo?

-Sim.

-Olhe com mais cuidado.

-Não é possível.

-O que foi?

-Eu não posso acreditar nisso.

-Agora percebes que há algo fora do lugar?

-Sim.

-E o que é?

-Eu mesmo. Eu estou fora do lugar, fora da minha própria vida.

Alfredo José Durante
Enviado por Alfredo José Durante em 23/05/2016
Código do texto: T5644646
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.