Atletas da Vida

Hoje, amanheci em clima de Pan. Desde o primeiro noticiário na TV só se falava nisso. Pan 2007 - Rio. Tomei café e me aprontei para sair numa overdose de notícias da Vila Olímpica. Matérias sobre canoagem, levantamento de peso, basquete, ciclismo, arremesso à distância, dentre outras tantas modalidades.

Já na rua, comecei a prestar atenção nas pessoas e comecei a ver em cada um deles, um atleta nato.

Passei primeiramente por um Posto de gasolina. Lá, pude ver o primeiro atleta do dia. Ele fazia alongamento. Dos braços, abrindo os capôs, das pernas, agachamento para calibrar os pneus. E olha que ele deve fazer isso pelo menos 200 vezes ao dia pelo movimento do local.

Continuei minha caminhada e logo me deparei com Das Dores, gari dessa rua. De pé desde as cinco da manhã, ela parecia estar remando, mudando a vassoura de um braço para outro, praticando canoagem, numa jornada de mais de oito horas.

Logo a frente avistei um prédio em construção, dezenas de operários praticando várias modalidades: arremesso, levantamento de peso, subiam e desciam com baldes de cimento e jogavam um para os outros blocos, tijolos e pedaços de madeira. De segunda á sábado, um treino árido e difícil. Olhei um prédio comercial, lá, estavam os alpinistas, pendurados em cordas na lavagem de janelas. Mesmo que essa modalidade não esteja no Pan, também são atletas.

Comecei a achar interessante meu passeio, eu estava numa vila olímpica, observando os treinos que a vida impõe às pessoas no seu dia a dia.

E logo encontrei o entregador de revistas, pedalando numa velocidade razoável, vai passando pelas residências e arremessando de longe sua entrega. Este, treina até de domingo.

Estava quase chegando ao meu destino e me deparei com os coletores de lixo, os rapazes, além da corrida, arremessavam sacos de plástico de longe em direção ao caminhão em movimento, todos numa mesma sintonia como se estivessem num jogo de basquete. Eu podia até ouvir um Galvão Bueno na voz de um vendedor de pamonhas de Piracicaba.

É, realmente estava no Pan, o trajeto que não era extenso, me proporcionou uma visão diferente dos jogos. Na verdade, do jogo da vida, onde os atletas são pessoas comuns na sua labuta diária. A única diferença, é que no final desse campeonato, ninguém vai receber uma medalha, talvez, nem um reconhecimento, apenas o meu, que nessa caminhada solitária, os observava, dirigia um bom dia a alguns e um sorriso a outros.

Estes são os atletas da vida, estes também devem ser reconhecidos no nosso cotidiano egoísta, onde ninguém repara um nos outros e com isso deixa escapar os retratos de uma realidade diária, mas, não tão glamourosa.