A confissão de Jucá e o pacto com Deus

Meio cambaleante e com a consciência moral em crise aguda, caminhando em ziguezague, apoiando-se nos bancos, paletó aberto e camisa para fora da calça, entra na igreja de São João Bosco, em Brasília, naquele final de tarde de meados de maio deste ano de 2016, o senador da bancada ruralista Romero Jucá para se confessar. Comportamento nada usual para alguém tão importante cuja família é dona de doze empresas que incluem lojas de calcinhas a canal de TV e mineradoras.

Ontem, ele foi defenestrado do cargo de ministro do Planejamento do governo Temer devido ao vazamento de conversas infelizes com o empresário Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. Numa tacada só havia revelado o êxito de um pacto para derrubar Dilma Rousseff, tentado, a partir de sua situação privilegiada e de outros colegas no governo da República, parar o trem da Lava jato, minar o futuro político de Aécio Neves e colocar todos os “ingredientes” que faltavam do Congresso – inclusive ele mesmo – na panela da corrupção da Petrobras, que cada vez aumentam mais e conseguem se esconder cada vez menos...

O padre salesiano Hildebrando Rodrigues Moura de Castro Borja, gaúcho de Passo Fundo, costuma atender pessoas numa pequena sala envidraçada logo após a entrada da igreja, à direita.

O padre, educadamente:

- Como o Senhor se chama?

- Romero.

- Ah... O senhor é o senador... Conheço-o pelos jornais e, inclusive, já li, pela manhã, uma notícia que faz alusão à sua pessoa e suas últimas declarações... Por sinal: bombásticas!

- É justamente todo esse tsunami que me trouxe aqui... e muito mais... o que anda me perturbando a consciência! Estou arrependido e quero pedir perdão a Deus! Eu tenho que mudar de vida...

Fazem o sinal da cruz. O sacerdote, então, o convida:

- Sinta-se à vontade! Pode falar.

- Por todas essas coisas que falei e vazaram na imprensa, envolvendo tanta gente com acusações à sua honra pessoal e criando uma instabilidade enorme num governo interino que mal começa a gatinhar, sinto-me culpado! Quebrei a confiança que o presidente Temer depositou em mim... Estou arrependido!

- Continue...

- Outro pecado... Em 2005, tive de sair do cargo de ministro da Previdência do governo Lula, em seu segundo mandato, nos meus primeiros três meses de atividade devido ao envolvimento com fazendas fantasmas para quitar empréstimos no valor de 18 milhões de reais do Banco Amazônia feitos a uma empresa na qual eu era sócio. Menti, na época, para desvencilhar-me, mas não teve jeito... caí em picado! Foi triste! Não tenho sorte... Toda vez que consigo subir na vida, conquistando uma posição de destaque... é essa desgraça! Estou arrependido.

- Um momento! Está arrependido porque o plano não deu certo ou porque não quer participar mais de tamanha falcatrua?

- Não quero fazer parte mais de tamanha falcatrua.

- Hummm... Mas, arrepender-se só não basta! O senhor deve devolver o dinheiro... Se quem lhe pagou é corrupto ou ladrão, devolva-o para a Justiça.

- Empreiteiros delatores premiados da operação Lava Jato trouxeram à luz esquemas de propinas do setor elétrico que me favoreceram. Pedi, também, 1,5 milhão de reais para um empresário com o objetivo de eleger meu filho como vice-governador em Roraima. De tudo isso, estou muito arrependido!

- Estou vendo! O senhor é realmente um peixe grande! Dos maiores que já vi!

- Fui também presidente da FUNAI. Permiti que madeireiras explorassem terras nativas. Reduzi o território destinado aos índios Yanomami, expulsando profissionais de saúde ali sediados. Isso resultou numa enorme mortandade de índios por malária e pelos efeitos deletérios do garimpo... Meu Deus! Sou considerado o maior inimigo dos povos indígenas do Brasil! Chuif... Meu nome apareceu até no relatório final da Comissão Nacional da Verdade no ano passado! Chuif... Com meu poder de influência e auxílio de madeireiras, roubei muita madeira nobre. Já tentei, inclusive, extrair ouro proveniente de terras indígenas... Tudo articulado com anteprojetos de minha autoria no Congresso, visando os mesmos objetivos... Eu sou uma praga mesmo... Não tem jeito! (começa a chorar...)

- Calma, irmão! Cristão não chora! Não se deprima! Lembre-se dos cristãos mártires Dietrich Bonhoeffer, Edith Stein e Maximiliano Kolbe que não temeram, nem fugiram diante das trevas do nazismo para viver uma vida plenamente convicta e correta! Claro que o vetor de sua vida tem apontado até hoje numa direção diametralmente oposta... Senador Romero, realmente sua vida tem sido uma romaria rumo à perdição... O senhor está indo ladeira abaixo num carro já em alta velocidade... Diria até: desgovernado! Continuando por aí, logo aparecerá no seu horizonte Belzebu, o chefe dos demônios, de braços abertos para abraçá-lo. Degluti-lo! Outros, como Adolf Hitler, Josef Stalin e Ariel Sharon, certamente, depararam-se com tão tenebrosa visão sem conseguir retornar a tempo... Caro Senador, o senhor não tem mais forças próprias possíveis para impedir o seu destino inexorável... Caro Senador, o mundo espiritual, que se esconde sob a cortina da invisibilidade, a partir do ponto histórico desse mundo em que nos encontramos, é mais terrível que o mundo das ganâncias e artimanhas políticas em que o senhor se enredou! Cuidado! Impeça – só com ajuda de quem realmente pode – a iminência do desastre total! Pois, foi Jesus Cristo quem disse: “Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então, chegou para vocês o Reino de Deus”. E dizia o Pe. João Batista Reus, servo de Deus: “A oportunidade é um cavalo encilhado que passa na frente da gente... Ou subimos nele agora... ou ele vai embora sozinho como chegou...” Senador Romero Jucá, aproveite agora! Faça um pacto com Deus pelo seu auto impeachment! Só, então, serás absolvido.

Miguel Wetternick
Enviado por Miguel Wetternick em 27/05/2016
Código do texto: T5648277
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