Pequenas gentilezas

Assim como o sol derrete o gelo, a gentileza evapora mal entendidos, desconfianças e hostilidade.

Albert Schweitzer

Fechei o zíper da minha jaqueta e enfiei o corpo dentro dos pingos d’águas que começaram a cair gelados no meu rosto e rumei para o ponto obstinado a atravessar as ruas nem que fosse a nado.

E assim fui indo apressado com a chuva ao meu encalço desviando da enchente saltando a correnteza ou enfiando o pé dentro dela quando não havia outro modo de continuar seguindo em frente.

Eram quase quatro horas e eu não ia ficar esperando a chuva passar coisíssima nenhuma, se ela quisesse me deixar encharcado ou gripado, que deixasse então, pois eu preferia um resfriado a uma bunda dolorida de tanto que ia ter que esperar o próximo ônibus chegar.

Foi então que, quando eu já estava pra lá do meio do caminho, ouvi um assovio, e por mais que eu o ignorasse, cego e motivado que estava, não podia deixar de olhar um vez ou outra para trás, tentando encontrar a cara de quem assoviava – era para mim?

Logo percebi que alguém da janela de um caminhão me acenava com algo em sua mão – deixei cair alguma coisa da mochila?

Freei bruscamente a correria achando que algo realmente havia saltando de dentro da minha mochila e voltei pela rua até aquela mão que me apontava aquele troço qualquer que ainda não sabia o que era.

Alguém que eu não conhecia em meio tantas outras preocupações que certamente haviam em sua cabeça resolverá me doar um abrigo do molhado por pura e simples bondade – um guarda-chuva.

Agradeci a gentileza meio perplexo e segui adiante agora protegido da água que insistia em continuar despencando lá do céu. De repente de súbito quando me toquei do que acabará de me acontecer as lagrimas começaram a ficar descontroladas em meus olhos. Elas queriam a qualquer custo chover dentro de mim também.

Entre tantos insensíveis aos problemas alheios um desconhecido me doa seu guarda-chuva em meio a um temporal? Espera ai, ainda existe gente assim nesse mundo? Ainda existem esses pequenos gestos, essas pequenas gentilezas?

Logo eu que não suporto mais ouvir as pessoas falarem mal umas das outras. Eu que só conheço gente interessada em si mesma. Eu que não tenho mais estomago para lidar com gente mesquinha, medíocre, asquerosa... Eu que só conheço quem não compartilha, quem não divide, quem não ajuda, quem não socorre, quem não se importa, quem só quer se dar bem... ganhei um guarda-chuva e alguma esperança de um desconhecido naquele dia ...

Para Walquíria rocha machado e suas lindas crônicas que estão no site www.saopaulominhacidade.com.br

Tiago Torress
Enviado por Tiago Torress em 05/06/2016
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