ESCREVER É PODER GRITAR EM SILÊNCIO

A escrita é um encontro de almas.A alma do escritor se encontra com a alma do leitor.Abraçam-se em um pacto silencioso.Escrever é escancarar a alegria ou a tristeza sem parecer louco,é pegar a bagunça e transformá-la em arte,é fazer o lado bom da vida melhor e o lado ruim da vida pior.Adoramos dramas e exageros.O ato de escrever deixa o poeta na porta do céu ou na beira do abismo.E,assim,vamos tentando nos textos escritos achar a paz.Escrever é poder ser menino,mesmo já sendo um rapaz;é ver fantasia,criar personagens,imaginar grandes amigos,grandes amores e grandes viagens;é sonhar com os pés no chão;é,como dizia Manoel de Barros,carregar água na peneira,preencher os vazios.Não estou falando da escrita forçada,de horas e horas rabiscando o papel esperando vir uma ideia.Estou falando da escrita instantânea,que sai de dentro de si como um vômito incontrolável de um bêbado,que em poucos segundos é colocado para fora,pois ficando dentro de si nos torturaria.O texto quando tem que sair,sai.Não precisa colocar o dedo na garganta para isso acontecer.Não força a escrita,deixa ela vir.A ideia vai pousar no teu ombro em momentos inesperados,como no barulho de um ônibus em fim de expediente,ou na paz sombria de uma viela em uma madrugada.Pode vir na mesa do bar e em um domingo tedioso.Há de vir quando se está bêbado,ou quando se está sóbrio.Ela não tem hora marcada,simplesmente aparece.Como está acontecendo agora,em uma insônia terrível num sábado à noite que fiquei em casa.Os pensamentos vêm e você quer gritar,mas não pode porque acordaria toda a vizinhança e o chamariam de louco.Aí,você apenas escreve.Escrever é poder gritar em silêncio.