VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Um tema que tem sido discutido, passou a ser apresentado em artigos e monografias, embora muitas coisas tenham sido feitas, percebe-se que o número de vítimas continua aumentando e o pior, muitas acabam perdendo a vida. Quem são os agressores? Maridos, irmãos, pais etc.

Ontem recebi mais uma triste notícia: Um esposo tirou a vida da esposa e atentou contra a própria vida cortando a garganta, ou pelo menos parte dela. Foi levado para o hospital local e depois para outro de maior porte, numa cidade próxima. Motivos? Vários, aos olhos do agressor.

O que me chama a atenção é que quando a vítima é uma mulher a sociedade tem um olhar diferenciado. Quando a vítima é uma criança, o olhar fica mais apurado. E quando a vítima é um homem? Pouco se comenta, ou nada se discute. Por alguns ‘sábios ‘ o homem era um trouxa, um fraco, um banana. Tinha uma grande admiração por um apresentador, e assistia a seus programas com certa frequência. Porém, no dia que o vi apresentando o caso de um homem que fora prestar queixa em uma delegacia por ter sido agredido por sua esposa; o digníssimo usando de ironia, disse: Olha o muque do homem que apanhou da mulher! Fiquei pensando: Ora, a vítima não reagiu, mas procurou os meios legais para se proteger de uma situação que poderia até ser revertida contra ela!

Fiquei preocupada porque o apresentador é um formador de opinião. Entra nas casas todos os dias e influencia pessoas quer queira quer não. Sempre ensinei aos que estava sob meus cuidados que agredir não é o caminho dos mais fortes. Ser forte é poder ter o controle de uma situação que te chama para a violência. E assim, passei para sobrinhos, alunos, filho, outros que aconselho... Fiquei triste e refletindo sobre as pessoas que estão nos meios de comunicação, adentrando nos nossos lares, ou dando palestras às nossas crianças e adolescentes, e que na verdade são incapazes de pesar suas palavras e ações. Ao contemplar aquele jovem sendo ridicularizado por ter tantos músculos e ter apanhado da atual companheira, pensei em quantos pais que estão tentando lutar contra essa onda de violência que tem assolado nosso país.

Repudio qualquer tipo de violência, seja ela física, psicológica, sexual etc. Mas, como sofre os que não compactuam com esse modelo moderno que está sendo imposto! Muitos estão entrando na onda pra não ficar de fora ou por ser coagido por alguém que tem certa influência sobre os mesmos. Ouvi desse apresentador de que ele não era falso moralista. Mas, o que é ser falso moralista? Para ele pode ser uma coisa, para mim pode ser outra e para quem estiver lendo esse texto pode ser uma completamente inversa do que pensamos. Porém, por vivermos socialmente, e para chegarmos a um termo aceitável, ou melhor, regra da boa convivência, meu direito termina quando o do outro começa. Quem não conhece essa máxima do tempo dos nossos avós?

Muitos justificam a agressão como um ato de amor. Estão equivocados. Aprenderam de forma distorcida que o que não pode ser meu não pode ser de ninguém. Aprendeu que posso destruir àquilo que está me causando mal. Àquilo que está me incomodando. Àquilo que é propriedade minha, e se me pertence então tenho direito a fazer o que quiser. E por aí, vai...

Já imaginou se todos no mundo pensassem da mesma maneira? Estávamos perdidos. Ser humano em extinção. Todos estariam destruindo-se mutuamente. Graças a Deus que não chegamos a esse ponto. Penso diferente. E acredito que algumas pessoas concordarão comigo. Quem ama quer o bem do outro. Quem ama, sofre, mas não machuca o outro e, quando isso acontece quem feriu sente na pele a dor que causou no outro. Pede perdão, desculpas e procura fervorosamente não repetir o erro cometido.

Infelizmente já vemos traços sutis, porém reforçados por pais ou cuidadores em crianças de tenra idade. As regras que estão sendo criadas no Congresso visando proteger nossos infantes, muitas delas são um verdadeiro ‘infanticídio’. Fui criada por um pai que NUNCA ME BATEU, mas, com um olhar eu compreendia a hora de ficar junto dele e a hora de sair de perto – que era a hora que os adultos chegavam e a conversa que seria iniciada no momento não me dizia respeito. Jamais poderia entrar sem pedir licença. Jamais entraria no quarto dos mesmos ou de outras pessoas sem antes bater na porta. Jamais poderia pegar algo de alguém. Jamais poderia receber algo e deixar de agradecer. Jamais entraria em uma casa sem que me mandassem entrar e nunca sentaria sem que me fosse indicado um local para sentar. Jamais pediria comida onde quer que eu fosse, só aceitando alguma coisa depois de receber o consentimento dos meus pais – que não tinham dois anos de escola.

A mochila da escola era observada. Se havia algo que eles não tinham comprado eu tinha que dá explicação e provar , ou seja, no mesmo dia, ou no dia seguinte ela( minha digníssima mãe) ia comigo até a casa da criança, os pais tinham que concordar com àquilo, depois de quem havia me presenteado ter confirmado a versão que eu havia contado. Talvez, alguém ache que tive pais terríveis e que essas e outras coisas deixaram sequelas irreparáveis. Que nada! Todas as seis filhas são pessoas do bem. Nunca entraram numa delegacia a não ser para abrir um B.O. Todas são saudáveis. Estudaram e trabalharam como fazem até hoje para terem um futuro melhor. Tenho orgulho dos meus pais, principalmente do meu pai. Que apesar de ser um homenzarrão NUNCA BATEU EM NINGUÉM. Vozeirão que passava uma imagem totalmente contrária do que era, mas foi um cidadão do bem até morrer. Sua influência foi tamanha que pus o sobrenome dele no meu filho e sempre que tenho oportunidade repasso histórias que vivenciei e aprendi por meio de suas palavras e atos. Tive oportunidade de trabalhar ainda adolescente. Viajar e morar sozinha. Andar por outros lugares e apesar de ficarem preocupados, eles confiavam na educação que tinham passado. E, por onde passava lembrava-me de honrar os ensinamentos recebidos em casa.

Mas, essa crônica não deve ser concluída, nem foi iniciada visando exaltar as qualidades de meu pai. Escrevi para tocar numa ferida que está aberta na nossa sociedade e que nunca será sanada se não revermos nossas escolhas, modo de pensar, sem sermos levados quais tartarugas pelas ondas da praia. Somos racionais. Foi nos dado o poder de pensar e escolher, porém responderemos por tudo que plantarmos aqui na terra.

IoneSak 06/06/16

Ione Sak
Enviado por Ione Sak em 06/06/2016
Código do texto: T5659054
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