O muro do açougue

O açude represa as águas do rio São José e o seu excesso vai descendo pelo vale onde tem as pontes, rumo a baixada da Cachoeirinha.

Quem vê aquele canal certamente se lembra das enchentes. Não imagina quantos problemas já trouxe para Poções. O canal está feito e as enchentes acabaram.

Numa certa tarde, o céu ficou escuro e caiu uma tromba d´água. Encheu as cabeceiras do açude e o canal que passa defronte ao Isaias Alves, na Praça do Divino Espirito Santo. A água ficou retida na praça do Coreto e invadiu a Deocleciano Teixeira.

Era muita água. O povo correu para a parte alta da rua da Itália e aguardava mais inundação. Dali da porta da Tipografia de Alcides Batatinha gritavam: “a parede do açude caiu, a parede do açude caiu”. Era esperar pelo dilúvio, pois as águas do açude inundariam a cidade.

Desesperados, correndo com as crianças, estavam Carlos Rizério e Dona Célia. Eles moravam na praça do Coreto e se livravam da inundação, mas estavam assustados com a notícia. Uma cena que me lembro como se fosse hoje. Segundo meu amigo Carlinhos Rizério, filho do casal, o pai recebera a notícia através de Francisco Paradela, antigo morador e conhecedor dos problemas da cidade.

No meio do desespero, muitos comentavam o ocorrido e percebiam que o volume de água não aumentava. O que era desespero passava a ser alívio.

Na praça da Igrejinha, onde hoje é o restaurante “O Gaiolão”, havia um terreno baldio, murado, bem ao lado do açougue de Seu Miguel. O muro era utilizado para propaganda política (uma delas era do Plínio Salgado).

Tanta chuva que o muro não resistiu à força dela. Bastou alguém gritar que “o muro do açougue caiu” para entender que “o muro do açude caiu”.

Enfim, o dia em que o erro de comunicação quase transformaria o muro em um dilúvio. Fora o "molhaceiro" e os prejuízos materiais, ninguém se machucou.

Luiz Sangiovanni
Enviado por Luiz Sangiovanni em 15/07/2007
Reeditado em 26/10/2008
Código do texto: T566391