Sonhar com ônibus

Só de olhar para as poltronas e as pessoas sentadas nelas eu já sabia que estava sonhando. Já tive esse sonho umas mil vezes. Acho que nunca saí deste ônibus antes do despertador tocar, normalmente nem curiosidade eu sinto para saber onde ele vai, costuma ser um daqueles sonhos de observar a paisagem correr pelas janelas e pessoas entediadas fazendo o mesmo, mas hoje, por alguma razão isto estava diferente. Sei que já havia visto estas pessoas muitas vezes por aqui, me são tão familiares que acredito que em outros sonhos tenhamos conversado, porém neste, são completos desconhecidos e achei que iria ficar apenas sentado esperando o cenário mudar sozinho, ou então a porcaria do despertador iria tocar e acabar com meu descanso.

Sou uma pessoa que gosta muito da velha maneira de fazer as coisas, até tenho um celular daqueles que se acham espertos, mas, acordo todos os dias com um velho despertador que nunca ficou sem corda. Fato! Cada vez que recarrego meu celular ele dura um pouco menos, mas, cada vez que giro a pequena alavanca e dou corda no relógio que grita, posso saber exatamente o tempo que ela irá durar. Pois é sempre o mesmo tempo!

Bom, as vezes nestes sonhos repetitivos algo diferente acontece. Por exemplo, não lembro daquela moça ali frente segurando o meu despertador, isso foi algo completamente novo.

– Hoje você não vai acordar! - A moça disse lá da frente para mim, e jogou meu despertador pela janela – Como vai ouvir ele tocar?

Eu queria responder a moça, dizendo que aquele despertador que eu via no sonho era apenas uma projeção de minha mente e que o verdadeiro despertador estava ao meu lado no quarto, onde eu realmente estava, mas, a moça desapareceu. Odeio essas coisas de sonho. Interessante que normalmente isto acontece e ninguém repara, mas neste sonho, a velha que estava no banco ao meu lado reparou:

– Pra onde foi aquela moça? Ela caiu do ônibus?

– Não... Só desapareceu, nos sonhos isso é normal...

– Calma! Como assim? Isso aqui é aquele sonho outra vez? Bem que eu estava reparando.

– Sim... É aquele sonho outra vez...

– Nossa! Eu estou sonhando! A quanto tempo eu não sonhava!

– Ah! Então... Sou eu que está sonhando, você só faz parte do sonho... Eu sei que você não existe, mas, pra não me entediar converso com você mesmo assim.

– Ok moço, mas, por que acha que isso é um sonho?

– É que eu já tive este sonho várias vezes. Até perdi a conta.

– Ah que bom... Então você deve saber pra onde o ônibus está indo... Você sabe?

– Não... Me desculpe... Sempre acordo um pouco antes de chegar ao destino... Meu despertador toca.

– Hmm... E que horas você acorda?

– As seis, todos os dias, por causa do meu trabalho...

– Que pena... Eu acordo as cinco... Mas sempre tive curiosidade de saber como este sonho termina...

– Entendi, entendi... É um daqueles sonhos onde encontro outras pessoas que também estão sonhando...

– Realmente é fascinante o que nosso subconsciente consegue criar... Não é mesmo? Acho muito estranho você dizer que o sonho é seu.

– Concordo. Queria saber se isso significa alguma coisa.

– Viu como o sonho é meu? É o tipo de pergunta que meu subconsciente faria para mim - Ela me disse - Eu sou psicóloga, sempre achei que o ônibus simbolizava a minha própria jornada na busca da individuação, mas, nunca achei nada marcante em nenhum dos outros passageiros... Achei que eram figurantes... Companheiros de viagem apenas como forma de espantar a solidão.

– Você é psicóloga?

– Sim... Acho que eu queria ter falado com você antes... Sempre falo com a menina do banco de trás, ela é a minha personalidade jovial precisando de um pouco mais de minha atenção...

– Então você acha que todo mundo aqui é um pedaço de você? É isso?

– Sim, pelo menos é o que eu acho. Hoje a menina não veio, talvez porque eu deveria falar mesmo com você... Um pedaço de mim que ainda não conheço bem. Olhe! Aquela moça voltou!

– Desculpe! Foi meu irmão, ele faz muito barulho quando chega em casa... - A moça que havia atirado meu despertador pela janela falou.

– Ah! Então você também está sonhando que está num ônibus com desconhecidos.

– Sim! Eu já vejo vocês a muito tempo... Deve fazer anos que eu sonho com vocês todos.

– Não quero falar nada, mas o sonho é meu! - Protestou um senhor que eu não lembro de ter visto se manifestar em nenhuma das outras ocorrências.

– Venha cá moça, enquanto ele sonha com a gente – Eu chamei.

– Ehhhh... Oi? - Falou a moça – Desculpe pelo seu relógio... Eu simplesmente tinha que fazer aquilo. Sabe quando a gente tem certeza de algo no sonho e faz o maior sentido naquele momento e depois não sabe mais como explicar?

– Sei sim... Isso acontece comigo o tempo todo.

– Então tudo bem pelo relógio?

– Aquele relógio não era o meu despertador de verdade, tenho certeza que o verdadeiro está seguro na minha casa, nem se preocupe.

– Isto deve ser meu desejo inconsciente de não despertar – falou sozinha a psicóloga.

– Ou o meu de que ele não desapareça – falou a moça, sobre mim – estou sempre lá no banco de trás, nunca falei com ele. Hoje tivemos a oportunidade.

– Realmente... Sonho com vocês a tanto tempo, que não consigo entender por que somos assim tão silenciosos? - Após esta pergunta levantei e fui até a frente de todos:

– Atenção! Atenção minha gente! Isto é um sonho! Este ônibus não é real!

– Não diga! - Falou todo sarcástico o sujeito mais próximo – Só de ver os bancos desse ônibus eu já sei que estou sonhando... A mais de vinte anos que não fazem mais carros assim.

– O que quero dizer é que uma vez que o ônibus não é real, nós não temos a necessidade de ficar em silêncio esperando a viagem acabar! Vamos conversar!

– E se agente cantasse uma canção? - Falou uma mulher que posso jurar não estar sentada ali nos fundos até alguns instantes atrás.

– Não! Vamos conversar! Por exemplo, alguém sabe pra onde estamos indo?

– Por que não pergunta pro motorista? - Replicou o senhor sarcástico.

– É! Pergunte pra ele! - Falou a moça que agora tinha sentado no meu banco, ao lado da psicóloga.

– Senhor motorista?

– Sim?

– Pra onde estamos indo?

– Todos para o mesmo lugar... - Ele respondeu fazendo um ar de mistério.

– Qual lugar?

– O ponto final, é claro...

– SIM! MAS AONDE FICA?

– No fim do nosso caminho.

Desisti de falar com o motorista, se ele sabia de nosso destino, provavelmente não estava interessado em nos contar. Voltei ao lado da moça e enquanto andava, percebi que cada janela mostrava uma paisagem diferente, uma delas mostrava uma grande fazenda com alguns touros pastando, outra mostrava uma cidade enquanto aquela que eu podia ver ao lado da moça e da psicóloga mostrava apenas um matagal.

– Você viram as janelas? - Perguntei.

– Eu já havia reparado - comenta a psicóloga – Acho que elas simbolizam a minha indecisão quanto ao lugar em que eu gostaria de estar... Quando estou trabalhando, queria estar em casa. Quando estou em casa, sinto saudades do trabalho...

– Pois eu acho que elas significam que neste ônibus estão acontecendo mais do que um único sonho – falou a moça – mais do que uma única viagem, sempre acreditei nisso...

– Ei! Onde foi a senhora que estava aqui?

– A psicóloga? - a moça perguntou procurando-a por ela com os olhos – Não sei... Sumiu.

– Isso quer dizer que já são cinco horas! Logo vou acordar também...

– HA! - A moça riu – Lógica de sonho é um barato!

– É sério! Ela disse que acordava as cinco horas... Você não estava aqui.

– Então, eu olhei no relógio quando meu irmão chegou em casa, eram três e meia. Passou tanto tempo assim?

– Eu acordo as seis também – Falou o sujeito sarcástico, virando-se para trás, agora um pouco menos sarcástico.

– Despertador? - Perguntei.

– Não! Eu programo meu cérebro para acordar na hora certa! Sempre funciona!

– Que legal... E você faz o que? Digo, com o que você trabalha?

– Sou comerciante. E você?

– Certo. Ah! Sou um profissional de marketing... - Não sei por que menti, acho que fiquei com vergonha de dizer que trabalhava com programação de computadores e ainda usava um despertador cebolão de um século atrás.

– Sério? - Perguntou a moça – Eu também!

– Olha! - falou o sujeito agora sem nenhum sarcasmo - No começo eu estava achando estranho, não aguento mais esse sonho com o ônibus e vocês olhando pela janela... Mas pelo menos hoje está diferente... Que bom que não vai ser aquele tédio de sempre.

– Sim... - eu e a moça respondemos juntos – Bem diferente...

– Vocês poderiam me explicar por que eu sonho com isso? - Ele perguntou.

– Eu também queria saber... - Respondi.

– Talvez o sonho não seja seu, nem meu, de nenhum dos passageiros – disse a moça.

– Ah! E de quem seria?

– Pode ser um sonho do ônibus... - A moça respondeu.

– O QUE? - perguntamos eu e o homem sarcástico.

– Por que não?

– Por que ônibus não sonham! - falei.

– E porque de qualquer forma não faria sentido! - O homem falou antes de desaparecer.

– Segundo a sua lógica, já são seis horas... Reparou? Ou seu despertador não tocou... - Me disse a moça rindo do fato de eu não ter desaparecido também.

– Ou ele acordou antes da hora. Ele pode ter um irmão, irmã, esposa ou cachorro barulhento...

– Ele pode ter um filho – falou a mulher que antes queria cantar uma canção.

– Ou estar em um fuso horário diferente do meu... - Eu completei sem nem acreditar que estávamos assim tão preocupados com o incidente.

---- Pode ser... - A moça disse receosa – mas acho que o seu despertador não vai tocar hoje! Ficou pra trás há muito tempo!

---- Espero que você esteja certa – concordei para mudar de assunto – Saber pra onde este ônibus vai com certeza vale um pequeno atraso no meu trabalho.

---- Então? Você tem uma caneta?

---- Não. Porque teria uma?

---- Não aqui? Na sua casa? Perto do seu quarto?

---- Tem uma lata cheia delas sobre uma estante perto do meu quarto, por que?

---- Só um pouco, vou lá buscar uma.

Antes que eu pudesse perguntar como ela iria fazer algo assim a moça sumiu outra vez, e aquela senhora que desejava cantar uma canção me olhava com um sorrisinho estranho.

---- Acho que ela gosta de você. - A senhora disse.

---- Pode ser, mas, acho que sonhos eróticos e sonhos coletivos no ônibus não combinam...

---- Não seja bobo! - A senhora parecia minha avó irritada quando eu não entendia alguma de suas sabedorias de vida – Existem muitos tipos de gostar. Ela tem sonhado com esse ônibus a anos, mas acorda pensando que sonhou com você. É incrível vocês nunca terem conversado.

---- Pegue essa caneta – a moça reapareceu atrás de mim, mas, eu a enxergava de um jeito 360 graus que só os sonhos conseguem fazer.

---- Para que?

---- Logo eu vou acordar, mas você, você vai ficar aqui!

---- E dai?

---- Escreva como o sonho acaba na parte de trás dos bancos... Então, quando voltarmos a sonhar, ficaremos sabendo.

---- Hahahahahaha que boa ideia! - Eu ria porque apesar de ser uma clássica lógica absurda de sonhos, fazia sentido.

A senhora que nos observava começou a cantar uma canção em russo. Sabe Deus como, eu conseguia entender que era uma canção de ninar.

---- Viu? Ela também está fazendo a parte dela pro nosso sonho durar mais tempo... - a moça comentou.

---- Reparou que ficamos só nós três?

---- Reparei.

---- Reparou que o motorista também sumiu?

---- Oh meu deus!

---- Calma! É um ônibus de sonho, tenho certeza de que ele sabe onde está indo. Na melhor das hipóteses, o motorista esteve dormindo no volante desde o início da corrida.

---- Tchau moço... Reconheço esse lugar... - ela disse olhando para uma janela que mostrava um riacho - É sempre aqui que acordo. Desculpa pelo seu despertador, não esquece de escrever o final do sonho!

A moça sumiu, aparentemente pela última vez. Olhei para o banco de trás e a senhora que deveria estar cantando, também já não estava mais lá, embora, sua canção de ninar continuasse a viajar comigo. Alta, clara e, em russo.

Eu olhava com carinho para aquela caneta que a moça me deu, eu sabia que era só uma projeção de meu inconsciente replicando a exata memória de uma caneta que eu havia ganhado em um hotel qualquer, numa convenção qualquer.

As janelas do ônibus agora mostravam todas a mesma paisagem, provavelmente indicando que apenas eu continuava sonhando. Imaginei que se eu simplesmente sentasse e esperasse, acordaria sem saber de um final para aquilo, pensei que deveria escrever algo legal na frente da cadeira da moça, para quando ela sonhasse outra vez pensasse que estava indo para um lugar maravilhoso, mas, isso seria não seria justo, e se aquilo fosse um sonho para uma viajem até as profundezas do inferno?

Olhava a paisagem lá fora e absolutamente nada parecia familiar.

Sentei-me na cadeira do motorista, coloquei as mãos no volante e pisei no freio. O ônibus parou conforme o esperado. Havia um botão ao lado da marcha, imaginei que a porta se abriria quando eu o apertasse e foi o que ocorreu.

Saí do ônibus, e pude ler o que estava escrito em sua lateral.

“Viação da alma partida, onde seus pedacinhos podem se reencontrar”

---- Uhu! Voltei! - A moça gritou dentro do ônibus – Cadê você? Ainda sonhando?

---- Aqui fora! - Gritei pra ela!

---- Que legal! Então o ônibus para em algum lugar! Que lugar é esse?

---- Então... Acho que o ônibus não iria parar aqui se eu não freasse ele...

---- Seu louco! Você que parou o ônibus! Então não vamos saber o final.

---- Mas vamos saber o nome da viação! Leia aqui!

---- Então... Isso quer dizer que somos pedacinhos da mesma alma?

---- Bom, isso explicaria sonharmos a mesma coisa né? A velhinha psicóloga já tinha dito que eramos pedacinhos dela, na pratica, somos pedacinhos de algo maior...

---- Como você diz... Pra um sonho louco, até que faz sentido.

---- Droga... Está ouvindo isso?

---- Não.

---- Droga! É o meu celular... Estão me ligando.

---- Se atrasou né?

---- Toma! - lhe dei a caneta – Escreva algo para o próximo sonho!

---- Escrever o que?

Eu queria dizer pra escrever o nome da viação, escrever que todos os passageiros eram pedacinhos de uma única alma, tenho certeza que o nosso pedacinho que virou psicóloga iria adorar isso, mas, acordei antes. Para minha surpresa, o despertador não estava onde deveria estar, já eram nove horas da manhã e meu chefe estava ligando no celular. Disse para ele que estava doente, desliguei o mais rápido possível, fechei os olhos e tentei voltar para a condução.

Eu repetia mentalmente o ‘tili tili bom’ que era a única coisa que eu conseguia lembrar da canção que a senhora havia cantado, tentava imaginar como a moça havia feito para voltar, até que adormeci, e, estava novamente no ônibus em movimento. A moça não estava mais lá... Olhei atrás das cadeiras para ver se ela havia escrito algo, e na cadeira onde eu sempre sentava encontrei apenas um desenho: um grande coração com alguns pequenos corações enfileirados dentro dele. Minha caneta estava jogada ao chão, como se ela tivesse acordado antes de completar sua obra de arte.

Eu estava rindo sozinho do que aquele desenho queria dizer... Peguei a caneta e escrevi “o buzão é o grande coração, este sonho é sobre o que vocês pequenos tem pra dizer.”, depois dei ainda mais risada imaginando que os outros pedacinhos de mim iriam precisar de muita lógica de sonho para entender isso...

---- Chegamos! - Grita o motorista como se sempre tivesse estado lá – Ponto final!

---- O que acontece agora?

---- Eles vão acordar o ônibus. É melhor sair dele antes disso.

Eu e o motorista descemos, e em instantes o carro não estava mais lá.

---- Sabe? Você é o primeiro dessa turma que chega até aqui...

---- Aqui onde? Que lugar é esse?

---- Olhe em volta - o motorista sorriu e gesticulou com o braço – É aqui onde todos vocês se juntarão no final, onde a festa será feita. Já está tudo pronto, há muito tempo.

---- Mas que festa?

---- Você não percebe?

Olhei novamente, haviam mesas com toalhas brancas, comida e bebida em quantidades exageradas demais para descrever com miseras hipérboles. Estavam lá pessoas sorridentes levantando seus copos para mim. Eu acho que os conhecia, talvez de centenas de outros sonhos, mas, eram todos rostos desconhecidos.

---- Eles... Eles... Você disse que ninguém tinha chegado até aqui.

---- Eles sempre estiveram aqui... São nossa verdadeira família. Nos esperam no final.

---- No ponto final?

---- Exatamente.

Acordei outra vez, era 30/01/2014, exatamente ao meio dia. Escrevi o sonho e esqueci. Nunca mais sonhei com este trajeto novamente, e nunca mais encontrei meu despertador (Sério! Devo ter tido uma crise de sonambulismo e me livrado dele, é a única explicação racional!). Tenho me virado com meu celular desde então, mas nunca gostei dele e nem das musiquinhas chatas... Nada como um bom tic tac pra embalar no sono e um sonoro trimmm pra fazer alguém desaparecer do meio de um sonho.

Hoje, dia 10/06/2016, lembrei de vocês meus colegas de viagem, pedacinhos de mim que foram parar tão longe do meu destino durante a mesma passagem pela Terra. Fiquei ouvindo canções russas de ninar durante todo o dia e mesmo que nenhuma pareça com a que ouvi no ultimo sonho, espero que minha mente saiba o que fazer com isso e que possamos conversar um pouco mais. Espero que não tenham parado de dialogar, cantar e de admirar a paisagem. E que minha pichação no banco não tenha causado nenhum tipo de transtorno nem aumentado o preço da passagem...

Boa noite. Durmam bem.

=NuNuNO==

(Que imagina que almas de classe alta também sonhem com isso, mas, num avião ou iate...)

NuNuNO Griesbach
Enviado por NuNuNO Griesbach em 12/06/2016
Reeditado em 13/06/2016
Código do texto: T5665453
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.