Meu presente de aniversário

Que bom que acordei. Poderei respirar, ouvir os ruídos da vizinhança, sentir o cheiro do café que a Vilma faz pra nós, abraçar meus filhos novamente e decidir a forma de comemorar.

Pegar uma estrada seria bom. Paisagem rural, sons e vistas diferentes. Um restaurante bem frequentado e cheiroso. Satisfazer meu paladar que, na maioria das vezes, pede pratos simples feitos com muito carinho e temperos bem escolhidos.

Vou até à padaria. Saio à rua e me deparo com o verde de uma grande árvore em frente ao meu portão. Além das folhas, vejo uma pipa agarrada aos galhos. Vejo uma linha escorrendo da folhagem e percebo nela um tom mais azulado. É a tal linha chilena. Deve ter sido usada por algum adolescente que clama por liberdade, mas não mede consequências. Pode ser que uma criança com pais ausentes ou sem família tenha corrido o risco de cortar as próprias mãos ou a jugular de alguém que depare com aquela linha.

Sou atendido por uma moreninha muito bonita. É impossível não perceber o frescor da pele, a alvura dos dentes. Ela libera um sorriso, lindo sorriso, ao corresponder ao meu " - bom dia!". Pesa e embrulha meus pães. Solicito que pese uma porção de presunto. Após fatiado, a delícia hipercalórica e salgada é colocada na balança. O peso fica além do que pedi, mas autorizo que embrulhe aquele tanto mesmo. Novamente ela sorri aquele riso bonito e descompromissado. Então, pega mais algumas fatias e junta ao que já fora pesado. Pedi que pesasse de novo. Ela me responde que se ficasse lá, na fatiadora, seria jogado fora. A jovem não entende o que está fazendo. Digo a ela que não tem importância o que seria feito das fatias. Asseguro a ela que só gosto do que é meu de direito.

Então resolvo dar meu presente a ela:

- Menina, seja honesta sempre. Principalmente quando ninguém estiver olhando. No futuro você colherá certamente os frutos do que você fez certo ou errado.