O último dia da semana inteira.

Irresponsavelmente, estive morto na última sexta feira...

Eram mais de duas da madrugada em um dia perdido pra mim, estava bebendo sem ter um por que. (Me preocupava estar fazendo isso com frequência)

O relógio não parava de rodar entre as duas e as três da manhã até que a banda subia ao palco, eram 5 integrantes que subiam lentamente com seus instrumentos e suas e suas caixas. Olhavam pra gente, acenavam e sorriam.

Me toquei do início do show, assim veio toda a minha busca por perdição, andei ligeiro até o banheiro, parei na frente da pia e rapidamente enfiei a mão no bolso, quando mais do que de repente apareceu um cara, olhou bem fundo nos meus olhos, ficou me encarando durante um tempo e quando ninguém mais se encontrava no banheiro ele amordaçou minha língua com um quadrado colorido. As coisas começaram a se transformar de uma hora pra outra. Então entre os espasmos de pecado, percebi que fui drogado pelo rapaz.

Em flashs, me lembro que ele parecia estar faminto mas não

tinha vontade de comer, bebia como eu estava a beber aquela noite, esperando o show tanto quanto os músicos.

Trepidando na saída do banheiro fui abordado por ele de novo que olhou pra mim e disse que estava indo embora. Porém, antes de ir, começou a me contar onde arranjou aquelas estrelas em punhado. Disse que não era dali, e que se sentia sozinho de tempos em tempos, ficava triste por deitar e acordar calado. Ele não parava de falar sobre os seus problemas e de como eram pesados, mas ao mesmo tempo, insignificantes... Por fim, instigou-me, dizendo que foi drogado por outro rapaz, mais cedo naquela mesma noite. Disse que esse precursor da insanidade noturna, lhe contou a história dos medos particulares, enquanto o drogava, algo sobre seu cansaço, coisas mentirosas de si, que se sentia triste por não poder ser ou viver com sua sombra. Esse sujeito, enfim exausto dessas mentiras, cuidou de vasculhar cada canto de seu abrigo atrás de coisas que lhe faziam voar, colocando nos bolsos da calça os ácidos, canetas de tinta gasta e pesos dos dias que se passam.

Antes da memória se apagar por total, me lembro do rapaz esfomeado me dizer que exatamente naquela noite, o cara retirou tudo dos bolsos e sem muito prazer, distribuiu os relaxantes aos que procuravam, ou pareciam precisar de uma noite profunda, olhou nos olhos de cada um e lhes deu um tempo único... Um tempo de auto gestão.

Assim apaguei, e me auto geri como o primeiro a ser assombrado pela própria sombra.

João PS
Enviado por João PS em 04/07/2016
Reeditado em 05/07/2016
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