Pai

 
Ele chegou da rua. Mais um dia de trabalho árduo, ser carreteiro era uma profissão muito cansativa. Mas era o que ele sabia fazer. E era feliz, era digno, tinha uma família que estava começando a se formar. Um filhinho, José.
A mulher, tão jovem, engravidara no primeiro ano de casamento. Era a sua família. A que ele sempre desejara ter.
Ao chegar da rua, encontrou sua amada chorosa, muito embora disfarçasse seu medo sob a casca de mulher durona. O bebê estava mal, muito mal, e ela de repente gritou “corre, Zé, o menino está morrendo, vai comprar o caixão!”
Ele não sabia o que fazer, para onde ir nem o que dizer. Apenas sentia, e sentia muito. Chorava dentro do seu coração que havia sangrado a vida inteira e ainda havia dor para sentir? O que mais havia? Ele não sabia. Ele tinha medo. Ele era só um homem que não tivera o carinho de sua mãe nem um bom pai que o amasse e o acolhesse como filho. Ele não sabia. Ele sofria. Sofria com toda a sensibilidade de sua alma dentro de um corpo de homem forte, de sertanejo honesto e trabalhador.
Desceu no rumo da rua para comprar fiado o caixãozinho barato que levaria às profundezas da terra o primeiro fruto do seu amor.
Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 15/07/2016
Reeditado em 11/08/2018
Código do texto: T5698431
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