O jogo das cartas.

Estavam as cartas reunidas em volta da mesa, criticando sem escrúpulos o rei de basto (paus), que por ser considerado o menos elegante, o mesmo se achava o mais audaz, talvez para poder equilibrar as qualidades que lhe eram atribuídas.

A dama de ouro pouco falava, mas os seus olhares de atravessado diziam muito, deixando as claras as suas opiniões , que não eram das mais nobres. O valete de espada só tinha ares para a dama de copas, e sempre que tomava a palavra, a mirava a seguir esperando por aprovação. Creio que a juventude lhe concedia uma certa graça, mas também uma impetuosidade desastrosa, e por vezes a sua eloquência faziam rir em disfarce a um par de ases , vivos como o "quê", sempre prontos para uma pilhéria.

O sete de ouro era um jovem cadete, cheio de manias e cacoetes, com um tique nervoso que o fazia mexer a cabeça para a esquerda a cada três segundos, fazendo com que o dois e o três de espadas , por algo melhor, ficassem concentrados no cronômetro para ver se algum tique falhava .

Os coringas saltimbancos faziam das suas, pulando e soltando gracejos espirituosos entre os convivas, sem se importar em alfinetar alguns dos naipes, pois como cachorros com vários donos, não possuíam na verdade nenhum , sentindo-se totalmente livres.

Os noves e os dez, com exceção dos de basto, eram os mais desagradáveis, pois apesar da numeração, não tinham o direito a esfinge estampada, e subjugavam os mais à baixo, como bajuladores baratos, só andando com seus pares, evitando misturar-se.

O pessoal do rei de basto era o mais à vontade, pois o seu rei não lhes exigia nada além da fidelidade, e os tratava com reservada igualdade, se é que se pode dizer assim, e os chamava pelo nome, o que elevava a consideração.

Percebendo a inquietação da mesa , aproximou-se , e disse; " O assunto chegou ", fazendo corar as damas e os jovens valetes, que subitamente interromperam a conversa, deixando claro que ele era de fato o assunto em pauta. Não se importunou, pois sabia que o jogo só estaria completo com ele, e com os seus, pois afinal o verso das cartas são todas iguais, e quando vão à mesa não há distinção, não é mesmo ? O jogo se faz com todas as cartas em ajuda e combinação mútua.

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PS: Nunca fui um jogador de cartas, nunca joguei a dinheiro, mas as acho muito bonitas e interessantes, o baralho espanhol não tem os símbolos e sim as figuras da espada, da taça (copa), ouro e basto ( paus), e foi a este baralho que fui apresentado, e que é usado em vários países .

Usei a palavra "basto" que é clava , símbolo de paus no baralho, e dispensa tradução, pois a palavra é reconhecida na língua portuguesa.

A tradução ao espanhol é engraçada, pois copa significa taça, e em espanhol taza é xícara, cuidado para não se enganarem quando viajarem , pois isto confunde . Vaso , por exemplo é copo, nada tem a ver com vaso de planta, que é mazeta. Ok ?

Espero que esta simples crítica tenha agradado, muito obrigado .

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 16/07/2016
Reeditado em 18/07/2016
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