Crônica do amor

E quando se trata de amor, do que precisamos?

Ouvi muito por aí que a melhor parte do amor é os grandes sentimentos que ele causa. Concordo.

Ele nos oportuniza emoções avassaladoras e sentimentos intensos.

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Mas, esses sentimentos não são vivenciados a partir das grandes surpresas que o amor nos traz e sim, dos pequenos detalhes do dia a dia, na minha singela opinião.

Há quem afirme que a parte mais interessante do amor são as elaboradas declarações, as reconciliações depois de brigas, os presentes caros, as cerimônias, as alianças e os votos de eternidade. Há quem viva por isso.

Tenho dúvidas.

Na verdade, não tenho. Não quando se trata de amor.

Quando se fala em paixão, até acho que esse dinamismo todo e as grandes proporções possam fazer algum sentido, dado a sua natureza de excessos, surpresas, caras efusivas, corações palpitando acelerados, e borboletas tentando escapar do estômago (aliás, como elas foram parar ali?)

Mas, chega uma hora em que essa turbulência ameniza, a tempestade passa, as coisas se acalmam. Chega um momento que, viver no olho do furacão não faz mais do que transformar os dias em cansativos roteiros de comédia romântica.

E o que queremos mesmo nesse momento é o aconchego, a cumplicidade, a calmaria, a paz e a certeza da exclusividade sentimental. Não estou falando de posse, mas sabe aquele sentimento dentro do outro? Ele é por ti.

A isso, denomino amor.

E quando se fala de amor, eu considero que a sua melhor parte está espalhada no dia a dia. Em forma de detalhes. Talvez, banalidades nada banais. Coisas pequenas. Mas coisas que, se prestarmos atenção, acabam por ser muito grandes e transformam o amor em um sentimento constante e por isso, tão intenso.

Amor está em chegar no banheiro e encontrar uma outra escova de dentes. (E talvez até, colocar a pasta nela, como demonstração de afeto).

Amor mesmo é trocar as toalhas de banho( o que não faz diferença alguma, mas bom mesmo é poder colocar duas toalhas lá)

Amor mesmo é sentir o braço formigar por causa de um abraço desajeitado (e no meio da noite dar só uma viradinha de leve, com muito cuidado, para o outro não acordar).

Amor mesmo é gritar do chuveiro para saber se o outro quer entrar para não ter que ajustar a temperatura da água. (mesmo que na verdade essa é uma desculpa pra ele tomar uma parte do banho com você).

Amor mesmo é alguém que saiba, sem titubear, se seu café da manhã é só café mesmo e sem açúcar. E que sua cerveja, é sem colarinho, por favor.

Amor mesmo é beijo na testa (e não existe beijo mais carinhoso que o beijo na testa. Ah, existe o de nariz que sempre vem acompanhado de um sorriso maroto e um abraço sincero).

Amor mesmo é guardar o ticket do estacionamento, no bolsinho traseiro da bolsa. (E na hora da saída poder falar “ficou comigo?”. E quando são as chaves do carro, divertir-se com o mini taquicardia do outro ).

Amor mesmo é ter uma conexão que não necessita de plateia, espetáculo ou aval para fazer sentido.

Amor mesmo é terminar de se arrumar com pressa por saber que o outro já está esperando há longos 10 minutos depois que ficou pronto.

Amor mesmo é colocar a roupa suja do outro junto com as suas só pra poder lavar e colocar na sua gaveta e depois encontrar uma peça de roupa do outro “perdida por lá”.

Amor mesmo é ter muitas referências e piadas internas(e não adianta tentar explicar para um terceiro, tudo ali é interno).

Amor mesmo é andar de mãos dadas. (com mão gelada , mão suada, mão trocada, difícil caminhar na escada).

Amor mesmo é fazer um esforço pra se ver , nem que for por 15 minutinhos, aliás a saudade só se mata com a presença, mesmo que fugaz.

Amor mesmo é gastar seus últimos reais em um agrado pro outro. (até aquele chocolate que ele mais gosta).

Amor mesmo é uma ligação inesperada. Uma mensagem fora de hora. Um bilhetinho despretensioso. (mesmo aquele do guardanapo de papel).

Amor mesmo é encher o copo do outro. ( de cerveja, de preferência).

Amor mesmo é desviar o olhar quando o outro mexe em seu celular (só pra não invadir a privacidade e afirmar que confia plenamente no que vocês tem de mais sincero).

Amor mesmo é namorar as fotos que vocês tiram juntos. ( e deixá-lo divulgar aquela em que seu nariz ficou igual o de um porco, só pelo ato de carinho e orgulho).

Amor mesmo é oferecer a última porção da comida, o último golinho de vinho. ( E quando o outro te oferecer de volta, dizer que não aguenta mais, mesmo morrendo de vontade).

Amor mesmo é ceder o cabo auxiliar pro outro no som do carro. (E ver o outro colocar a música que tu gosta, em retribuição).

Amor mesmo é cuidar do outro. Saber o que o outro precisa. (mesmo que só um afago na nuca ou alguns elogios).

Ser gentil. (mesmo quando o outro estiver um tanto estressado).

É escutar quando for preciso, falar quando se deve.

Amor mesmo é apoiar, procurar compreender. (mesmo que naquele momento você esteja vendo as coisas de forma diferente).

É saber reconhecer a felicidade nas coisas pequenas.

Amor mesmo é saber doar diariamente.

Valorizar coisas que não costumam ter preço, mas seu valor é muito grande.

Grande, mas tão grande que são pequenas, tão pequenas que cabem nos gestos, que preenchem o dia com carinho e a vida com mais eficácia do que muita coisa grandiosa por aí.

Amor mesmo é saber reconhecer que o melhor do amor está aí, em pequenas doses, todos os dias.

E agradecer pela sorte de ter um amor assim. Amor mesmo.

(Anelise Passos)

Anelise Passos
Enviado por Anelise Passos em 04/08/2016
Código do texto: T5718694
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