Me esqueço

Às vezes eu me sou tão estranha. Às vezes nem sei o que quero de mim ou o que algo em mim quer. Às vezes me inquieto. Pergunto-me se é de propósito, se esse "algo em mim" vê a vida monótona e decide perturbar um pouco as coisas, sair da monotonia que é ser exatamente o que é. E então, vejo-me ali, presa a tantos outros eus, na mesma cadeira, com a mesma xícara de chá. É certo que mudei de chá, troquei a calma camomila pela controversa hortelã. Talvez seja esse meu destino, uma ponte singela entre camomila e hortelã, um eu em paz, substituído pela incerteza do sabor que mais parece cor, pelo gosto doce, aquele que fecha e inaugura a noite.

Fernanda Marinho Antunes
Enviado por Fernanda Marinho Antunes em 06/08/2016
Código do texto: T5720637
Classificação de conteúdo: seguro