CHEGAMOS AO SÉCULO 21

Ufa, até que enfim chegamos ao século 21 e já passamos dos sessenta ou setenta anos.

Seria impossível imaginar que, depois de tantos perrengues, sonhos não realizados e outros efetivados, nós estejamos aqui sãos e salvos.

Sempre pensávamos que depois de tudo, nos tornaríamos super-homens.

Pensávamos que depois de tanto saberes seríamos grandes sábios.

Imaginei que, de tanto andar pelo mundo, eu chegaria a conhecê-lo.

Achei que a força física sempre estaria comigo.

Achei que os desencantos e as frustrações nos tornassem de casca dura.

Parece que foi ontem. E foi! Tudo foi tão rápido que muitos de nós nem sequer notou.

Tentamos disfarçar de todas as maneiras os estragos que o tempo fez.

Tentamos manter o mesmo ritmo, mas não dá mais. Já estamos andando devagar, pois a pressa ficou lá atrás. É até bom, admiramos mais a paisagem.

Tentamos dançar a noite inteira, impossível. Os discos da nossa coluna gastaram mais depressa que os antigos discos de vinil.

VEMO-NOS DE UMA MANEIRA E O MUNDO NOS ENXERGA DE OUTRA.

Se nos salientamos em atividades que “pertencem” aos jovens, esses nos olham de soslaio numa visível reação de estranhamento. Eles pulam, gritam e correm e nós só observamos e lembramos que um dia nós fomos assim também. Se voltássemos a fazer isso, eles nos colocariam num hospício. Que injustiça! Recolhemo-nos, pois a vida é assim mesmo.

Saímos das cadeiras nas calçadas e fomos para as redes socais. É lá que ficamos grandes novamente. Não precisamos rebocar nossas faces enrugadas, apenas caprichamos na foto do perfil do “face”. Isso nos conforta.

Não precisamos dançar, pular, gritar e correr. Por que se arriscar?

Não será nas ruas das cidades que os jovens nos perceberão, pois eles, tristemente, não percebem nem mais os seus em suas casas.

O preconceito está no ar, nos meios de comunicação e nas famílias.

A mídia mostra os velhos nas filas de hospitais num baita sofrimento e de outro lado mostra jovens bonitos e felizes com suas modernas tecnologias.

Quando os velhos nos asilos são vistos como num zoo humano, ficamos tristes. Mas, como disse antes, é a vida.

Não há como voltar no tempo, o que foi vivido já está na memória, que bom. O que vivemos e aprendemos é só nosso.

Se alguém quiser aprender e apreender que venha até nós.

Cada um com suas vivências. Cada um com as suas velhices.

Nossa triste sina foi a que ficamos civilizados e desenvolvidos.

Homens civilizados criam guetos para a velhice. Os desenvolvidos afastam-se de tudo o que é velho, inclusive das pessoas velhas.

Os primitivos criavam seus velhos até o fim.

Valeu a pena chegar ao século 21?