Mootley sobre a pedra; ela deve ter alguma coisa boa, pois meus cães adoram ficar em cima dela.
 


A PEDRA
 
 
No terreno da casa onde moro, logo na entrada junto a garagem, há uma grande pedra. Quando nos mudamos para cá, eu costumava subir nela e sentar-me sob a sombra de um manacá da serra que infelizmente já não existe mais – tombou em uma tempestade de verão. Era gostoso ficar ali. Às vezes, eu me deitava e ficava olhando o céu que aparecia entre as folhas do manacá. Certa vez, escrevi um conto baseado nesta pedra – para quem deseja ler, basta procurar por “Um Sapo Insólito” entre meus contos nesta escrivaninha. Enfim, eu me sentava sobre ela sem saber que ela tinha sido importante para uma porção de vizinhos antes de virmos morar aqui.

Dois deles, ao virem que a pedra ainda existia, demonstraram surpresa: “Nossa! Ela ainda está aí! Brinquei muito em cima dessa pedra quando criança!” E o outro: “Nós costumávamos vir para cá quando era apenas um terreno vazio.” E lá se vão muitos anos! Percebi que a conexão deles com a pedra era forte, e pela emoção nos olhos e no tom de voz, eu soube que aquela pedra trouxera à tona muitas emoções e lembranças. 

Depois que o manacá tombou, procuramos uma muda de cerejeira e a plantamos exatamente no lugar dele. Já temos novamente uma sombra acolhedora sobre a pedra, que nos convida a sentar sobre ela e divagar. Debaixo da pedra, há um buraco que nós já enchemos de terra e de pedras muitas vezes, mas que insiste em reaparecer aberto. Há alguns anos, eu coloquei a mangueira d’água dentro dele só para ver o quão fundo ele era, e nada de ela chegar até o fim. Acabei desistindo, achando que talvez eu estivesse invadindo a casa de algum animalzinho que morava por ali... e dito e feito!
Dias depois, vi um sapo enorme emergindo de um dos lados do buraco. 

Há alguns dias, eu e minha irmã, que estava me visitando, estávamos sentadas na varanda quando meus cães começaram a latir, rodeando a pedra e farejando. Coloquei-os no canil, com medo de que fosse uma cobra.

Cheguei pertinho do buraco, ajoelhando no chão, e ouvi alguma coisa se mexendo lá dentro. Peguei a vassoura e cutuquei algo macio, que rosnou para mim. Era um gambá. Eu não o vi naquele momento, mas dias depois, ele apareceu passeando no telhado da garagem. Acho que eu vou começar a cobrar aluguel pela moradia!



Nosso novo inquilino da pedra, o gambá. Agora já sei porque eu às vezes fico sem sinal de wifi! Ele gosta de passear sobre a minha antena...

Fico feliz por ter em meu jardim uma pedra que carrega tantas coisas boas e que serve de abrigo para tantos animaizinhos. Eu às vezes penso se, quem vier morar na casa após a gente, manterá a pedra no lugar.



 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 24/08/2016
Reeditado em 24/08/2016
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