Praia boêmia - O Corpo Proibido e Contos Sucintos de Amor - Ato I/II

Eu acordei com uma sensação libertadora, que a noite passada havia me deixado como legado.

Eu acordei com meus seios livres, totalmente nua sobre a cama de porcelana da minha avó.

Eu me senti viva pelo frio da porcelana me tocar a vagina, o frio daquele dia me ouriçava os pelos de todo o corpo.

É tão proibido acordar nua.

É tão proibido a mulher sair à noite, virar a noite.

É tão proibido ser mulher... Urgh!

Me levantei da cama como quem tem asas.

Se assim fosse, minhas asas seriam negras, com a “sujeira” do meu despudor, lançadas sobre minhas penas alvas.

Caminhei até a porta da cozinha, ainda nua.

A porta estava fechada.

Caminhei pela lateral da casa.

Havia um microondas sobre uma mesa de dimensões exatas para o equipamento.

Havia um jarro com flores que, preguiçosamente, se fechavam.

Eu nunca havia prestado atenção, pois, normalmente eu chegava muito tarde da noite e bêbada. O que também me é proibido...

Estava chovendo. E a sensação de liberdade que andar nua me trazia, me remetia à forja de sensações em que eu me submetia, à noite, na cama antes de dormir, acerca da sensação de Eva de andar sobre a terra, nua – mesmo que ela não soubesse que estava nua, se sentisse culpada ou apontada por pessoas cheias de moral que nem para si funcionam.

Eu me sentia a rainha da liberdade, eu me sentia como se fosse a Liberdade guiando os franceses da revolução.

A porta da frente também estava fechada. Já final de tarde, o bairro parecia deserto.

Subi no telhado e abri a janela do que seria meu quarto antes de ser exilada para o quarto dos fundos, junto com tantos cacarecos e lixarias da minha avó. Era como um porão. E eu realmente vivia como a cachorra que tanto me chamavam. Estar no telhado, nua, era como se eu estivesse voando segundo minha natureza. Parecia ser um milagre! Eu me sentia viva, ativa e ativista.

Segundo a “moral e os bons costumes”, uma mulher não deve vestir roupas curtas, não é bem vista a mulher que se embriaga, e mesmo que não fique com vários homens, será sempre chamada de “puta”, palavra essa de baixo calão que devia ser proibida pela família tradicional, já que é e remete a algo tão sujo e proibido: o sexo.

Por que querem proibir o meu corpo e não suas vidas “casas de bonecas”. Se eu vivesse numa casa de bonecas como alguns muitos deles, e eu estivesse nua como estava, me sentia sendo expulsa da casa de bonecas, eu sairia gritando: “SAIAM DA CASA DE BONECAS AGORA! “.

Sexo é bom. Exceto quando é ofertado à mulher como uma obrigação, para satisfazer as “necessidades” do marido e reprodução, como se a mulher fosse um bicho e os homens... Gente. Isso é patriarcado. Isso é machismo. Sexo é muito bom quando isso é humanizado e igualitário no tratamento – não necessariamente uma mulher devia ter um pau no meio das pernas.

Me deitei na cama, peguei algumas roupas ao passo que eu ia ficando mais sóbria – ou esclarecida -, eu percebi que minha avó havia me deixado sem roupas, trancado as portas - e as janelas do primeiro andar fechadas – e levado as chaves... ela havia me dito que “nesses dias ia me deixar nua e trancada na rua. E ela queria saber como eu ia arrumar roupas para farrear com os cafetões”. Bom... o plano dela não parece ter funcionado. Ou funcionou às aparências e não se completou a totalidade de efetividade.

Já estava escuro. Eu tomei meu banho, me vesti – não usei sutiã e nem calcinha -, naquele dia eu não queria dançar, não rebolar até o chão, não queria sentir os prazeres da festa senão pelas bebidas doces, cervejas doces, whisky doce, rum de cana de açúcar. Deves estar se perguntando de onde vem esse dinheiro... alguns amigos me dão baixos valores, eu guardo no bolso para comer e deixo que os caras paguem para mim, mas, só peço o que está dentro do orçamento do que tenho, para o caso do cara não puder/querer pagar a minha bebida. Também não bebo muito, só o bastante para eu perceber que estou alterada, sobretudo, sóbria. Na noite passada, já havia sido consumado o isolado acontecimento de eu tomar um porre, mas, eu estava entre amigos e sabia que estava em “segurança”.

Eu me sentia perdida com toda as sensações que eu senti mais cedo. Parecia durar muito tempo. Durante muito tempo eu me sentia perdida. Apesar do temor que a confusão dentro da minha cabeça me fazia sentir, eu me sentia bem, era revigorante! Era masoquista e terno...

Então, eu resolvi descer para a praia. E, enquanto eu pagava a conta, um rapaz me apareceu com um “já vai? Está tão cedo “. Dei um sorriso e ignorei. Eu não queria falar com ninguém, só queria ficar sozinha. Acho que essas sensações diziam respeito ao mudar de fase, quando se cai numa sensação de torpor, um transe mental, um período de reavaliação e de recolhimento, mudanças na rotina, inclusive nas coisas que mais gosta de fazer: se comunicar.

Uns dez minutos do bar até a praia, mas, eu queria ir para locais específicos. Um em especial estava bem mais distante daquele local. E, dessa vez, voltou uma sensação que eu senti durante a adolescência: amor à Arte e à Dança Artística, à expressão corporal de sentimentos presos dentro da garganta e do coração, que palavras não podem – ou não conseguem – expressar.

O primeiro ponto da praia é um banco na orla, em que encontrei um rapaz. Esse rapaz me fez sentir sensações de carinho, me deixou o amar por exatos sete dias. E manteve a reciprocidade. Essa vivência me proporcionou conhecer duas outras pessoas, um chato narcisista e um tarado por meu corpo que queria me levar para morar em uma casa de frente para um lago. Chorei a falta do rapaz e fiz alguns movimentos com as mãos e os braços. (Neto)

O segundo ponto da praia é a calçada da ribanceira. Vivenciei o encontro com um homem. Ele era turista e gostou muito de mim, ele me fazia me sentir bem e me presenteou com um livro – O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry -, também foram sete dias, inclusive com dois dias sem se falar por uma briga boba que a imatura aqui iniciou. Chorei pouco, sorri boa parte do tempo que eu estava ali. Movimentei as mãos, os braços e a cabeça. (Henrique)

O terceiro ponto da praia se referia ao local que um rapaz me ofereceu uma cerveja, como bandeira branca depois de uma crise de ciúmes de uma amiga em comum. Duas semanas depois ele faleceu. Chorei, não fiz muitos movimentos, apenas olhei para o mar e chorei, fiz uma oração e segui. (Sam)

O quarto ponto à dois passos do terceiro, foi o local que quase fui agredido por um rapaz que o namorado dele estava me flertando. Não foi a melhor lembrança da alvorada do ano novo. A expressão que fiz foi levantar o dedo do meio das duas mãos para a falta de racionalidade dos dois. (ObSon)

O quinto ponto foi onde encontrei, a sós, o “tarado pelo meu corpo “ citado no primeiro ponto. Foi feito o convite para ir para ao quarto dele e eu fui, foi o melhor sexo até a data.

O sexto ponto foi onde me despedi do primeiro cara, chorei, muito. Desejei ele novamente e chorei mais ao lembrar das lágrimas dele escorrendo pelo rosto pela despedida. Nunca transamos, eu só queria amar ele, e amei, mas, queria fazer isso muito mais. (Neto)

Quando estava indo para um lugar ao final do calçadão, eu encontrei alguém.

Continua...

Diego B Fernandes Dutra
Enviado por Diego B Fernandes Dutra em 29/08/2016
Código do texto: T5743425
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