Quero ter esperança.

Sempre acreditei que uma vida sem esperança é uma passagem vã. É preciso acreditar, vislumbrar futuro, novos sorrisos, novas promessas de vida nos corações, primaveras mais doces e floridas, sabiás cantando na sua plenitude.

É cinza a vida de quem não espera com alegria e certeza de que coisas boas haverão de acontecer. Não quero essa cor de morte para mim. Para ninguém.

O cinza chumbo que hoje se desenha, amargo, no Brasil com a confirmação do golpe feroz e hediondo contra a minha presidente Dilma, provoca para mim o pior dos sentimentos. É a vitória do nojo, do asco, da miséria moral, da inveja e da mentira sobre um projeto de inclusão social. É inegável a quantidade de equívocos que o governo cometeu, mas, dentro dele, sempre houve proposta de inclusão como nunca na nossa história. Será possível esquecer os investimentos no Nordeste pelo fim da grande miséria, a queda da mortalidade infantil, a drástica diminuição do êxodo rural em função do desenvolvimento daquele tradicional curral eleitoral? Será possível também esquecer a criação das várias universidades federais, a criação do programa Ciências sem Fronteira, a criação do PROUNI, lei de cotas, estatuto do idoso, o programa Luz Para Todos e tantos outros avanços?

Para multidões, é possível esquecer sim. Para os deputados e senadores, que têm a desfaçatez de urinarem na Constituição Cidadã com os seus pintinhos diminutos, é mais do que providencial o esquecimento. E buscam o reforço - o óbvio reforço – de aprovarem o projeto Escola Sem Partido do “nobre” Magno Malta para imbecilizar a geral. Se a escola tem sido um dos últimos redutos de discussão, de debates, de olhar crítico para os demais, para a tentativa de compreensão da realidade social, por que a petulância sórdida de se amordaçar os professores – aliás, cada vez mais raros no Brasil?

Será tão difícil compreender isso?

E, assim, o presidente golpista e sua camarilha passariam com mais facilidade pelos livros de história como homens de bem.

Sempre tive certeza da fragilidade da nossa democracia. Sempre achei absurda a fala de uns tantos políticos quando afirmavam que a democracia estava consolidada. Nunca, gente! O momento sombrio que estamos vivendo atesta isso.

Mas tenho uma vaga esperança, muito tênue, quase me obrigo a tê-la para não pirar na batatinha. Espero que, só perdendo tudo aquilo que era entendido como de direito, a juventude comece a perceber o que os engravatados que odeiam olhar distante dos seus próprios umbigos lhe fizeram: perder, perder e perder muito.

Só prá começar – 45% a menos de verbas para a educação. Ciência com novo corte de orçamento para 2017, suspensão do programa nacional de combate ao analfabetismo, sem contar a redução de verbas para a saúde, flexibilização da CLT, ou seja, negocie com o seu patrão quando ou se ele estiver disposto a lhe ouvir . Se não estiver satisfeito com a decisão que ELE tomou... RUA, porque tem outro que quer a sua vaga.

Desejo que essa juventude, dos quais milhares saíram para as ruas gritando, esbravejando e batendo panelas, reflitam e vejam que fazer graça tem preço e , normalmente, o preço é muito alto. E que a vida exige responsabilidades diárias e viver é muito mais complexo que comprar novos smartphones e caçar pokemons.

Por que falo dos jovens e não dos mais velhos que saíram a bater panelas, fizeram selfies, postaram em redes sociais, falaram besteiras a granel? Por que não falo deles? Acredito que, aos borbotões, não estudaram adequadamente a história, não quiseram compreender a sua dinâmica porque o raciocínio era por demais profundo e exigia uma reflexão mais elaborada do que poderiam ou conseguiriam ter ou não compreenderam a complexidade das relações políticas, as vantagens para os donos do poder de se manter uma sociedade submissa e atenta às palavras e ao olhar duro de William Bonner. Muito menos entenderam as malditas heranças do passado colonial que teimam em impregnar as nossas almas e destinos. Ou pior: pobretões, acreditaram fazer parte de uma classe dominante, bem ao estilo “não tenho dinheiro, mas penso que tenho”.

Penso que, perdendo tanto assim, os jovens não fiquem apenas com cara de “ué?” mas que tentem ousar, tomar atitudes sensatas, se colocarem no mundo como seres pensantes e saber o valor das conquistas, a importância de se fazerem pessoas e que a palavra cidadania, no Brasil, é escrita com muito suor. E lágrimas. Muita tristeza. E esperança.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 29/08/2016
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