A fauna Pokémon

Um dos costumes que adquiri morando em Curitiba foi o de caminhar de vez em quando no Passeio Público. Geralmente, isso acontece após o almoço a fim de dar uma relaxada ou mesmo antes das aulas na UFPR, já que fica próxima, para passar o tempo. Trata-se de um equipamento público no centro da cidade, um dos mais antigos da capital paranaense, onde se pode encontrar uma boa diversidade de espécies de aves, roedores e répteis, além de alguns macaquinhos que ficam numa zona protegida e mais afastada da passagem dos visitantes do espaço, mas que na hora do almoço propiciam divertidíssimas apresentações para o público que por ali passa. É um lugar também onde se pode encontrar famílias com crianças pequenas, trabalhadores em horários de descanso, jovens que saíram ou estão a caminho das escolas, pipoqueiros, sorveteiros, idosos jogando cartas, profissionais do sexo em busca de parceiros ocasionais e alguns seres considerados estranhos para o resto da sociedade que buscam na companhia dos animais, muitas vezes exóticos, um tipo de compreensão e cumplicidade que não se pode explicar da maneira racional e progressista.

Nos últimos meses, o Passeio Público tem sofrido uma invasão de pessoas, muitas até que nunca haviam sequer adentrado o lugar, que ficam em bando num canto específico, sobretudo naquela passagem que está mais próxima do Centro Cívico e onde fica o Shopping Mueller. São, em sua maioria, estudantes, mas não tão raramente surgem também executivos, ou em ascensão ou já experientes, que ficam parados ou fazem movimentos curtos, seguindo a direção de seu smartphones ou Iphones quando esses aparelhos telefônicos apontam a presença de outros bichos, só que esses virtuais. Os Pokémons já foram personagens de desenho, de figurinha, de filme e, recentemente, têm se tornado personagens de games que buscam interagir ainda mais com os jogadores, e seus caçadores, pois os bichinhos cibernéticos costumam aparecer em lugares físicos que estão próximos aos sujeitos que os procuram, ainda que permaneçam invisíveis para os demais. Essa interferência de outro mundo, de uma realidade virtual ou “aumentada”, no mundo do cotidiano e da realidade “palpável” está cada vez mais frequente e não cabe aqui fazer algum tipo de juízo de valor sobre o impacto na sociedade que faz uso deste intercâmbio. Como sempre, há pontos bons e ruins.

Porém, cabe notar algumas questões curiosas que surgem conforme torna-se banal esse tipo de imagem nos lugares públicos do mundo atual, onde de certa maneira se pode verificar a reunião de algumas pessoas desconhecidas em busca dos mesmos objetivos, mas com as mesmas pessoas, na maioria dos casos, ainda sem interagir entre si. É possível caminhar próximo a estes jogadores (fique atento para se desviar, pois quase sempre não se dão conta de outro ser físico andando próximo) e verificar uma boa conversa entre eles para trocarem experiências sobre o que fazem, ou sobre o que estão vivendo? Dificilmente isso ocorre.

Voltando ao caso específico do Passeio Público, relato o que aconteceu comigo um dia desses, na verdade proposital, porque me encontrava com uma dúvida tremenda e resolvi solucioná-la, ainda que só de modo parcial. Enquanto andava pelo local, onde costumeiramente se encontra uma aglomeração de caçadores de Pokémons, me aproximei de um jovem com a aparência de seus 20 anos, com mochila nas costas e inteiramente preso ao mundo que seu aparelho de celular apresentava. Esboçando um falso perfil de turista recém-chegado ao lugar, perguntei: por favor, você pode me dizer onde ficam as araras-vermelhas? Subitamente espantado, aquele jovem educado e com uma leve impressão de incerteza, me responde de pronto: esse eu ainda não vi por aqui. Agradeci mesmo assim e me encaminhei para o cativeiro onde ficam as araras-vermelhas e tantas outras espécies de lindas aves para compartilhar, mesmo que por apenas alguns minutos, a solidão e a ignorância de um mundo cada vez mais caduco, apesar de constantemente festejado como em profunda evolução.