Terra de coronés.

Quem imagina que coroné é coisa do passado, engana-se. Eles estão por aí. Nas diversas atividades sociais. E o pior é que estão mandando, e muito.

Nos rincões afastados do país talvez ainda usem aqueles trajes rurais típicos com o fique quieto, revólver, na cintura. Donos da vida e da morte, do destino e da vontade das pessoas. São magistralmente descritos por Jorge Amado em seus romances.

Percebe-se que mais de um século depois da proclamação da república eles proliferaram e atuam em diversos segmentos da sociedade. Estão no setor de comunicações, representados por seis ou sete famílias que controlam a imprensa de um país de dimensões continentais e 204 milhões de gados, digo, pessoas. Embora chamem os brasileiros de telespectadores ou leitores, na verdade os tratam como gados, dirigindo seus pensamentos e os direcionando igual aos vaqueiros quando conduzem a boiada.

São facilmente observados no Judiciário. Onipotentes e intocáveis. Podem tudo e ninguém ou nada pode contra eles. Quando pegos em delitos ou cometendo erros absurdos sofrem uma punição, que é a aposentaria com salário integral e todas as benesses da ativa. Há coronés deste setor que desrespeitam leis. Transformam-se em justiceiros e nada lhes acontece. Seletivos e ágeis quando lhes convém. O contrário também é verdadeiro porque são lentos e vagarosos em alguns processos idênticos àqueles em que aplicam celeridade.

Também estão situados na esfera econômica. Capitalistas tardios. Gostam de ganhar muito e pagar pouco. Há os que preferem o trabalho escravo. Inclusive tem senador acusado de manter pessoas trabalhando em regime de escravidão em suas fazendas. Pregam a concorrência para o povo na busca de emprego. Eles preferem os conchavos e risco zero. Alguns continuam no setor rural, hoje nomeado agro negócio. Muitos além de atuar nesta esfera, igualmente, estão na indústria e no setor de serviços. A mentalidade primitiva e o modus operandi continuam os mesmos. Podem tudo e o povo só pode aquilo que permitem.

É inegável que a área que mais gostam é a política. São vistos nas esferas municipais, estaduais e federais. Enquanto muitas pessoas batem no peito e dizem não gostar de política, e se dizem imparciais embora sempre neguem um lado, os coronés adoram política. Gostam tanto que para eles não há diferença entre o estado e suas famílias, suas terras e empresas. É tudo deles. Está tudo dominado, pensam. Acaso o leitor observe os sobrenomes dos políticos irá perceber que o coronelato é hereditário. Lembrou as capitânias hereditárias? Parece que elas se modernizaram. Engana-se quem pensar que coroné é exclusividade do Nordeste. Estão em todo o país, no Sul, Sudeste e Centro Oeste que são as regiões mais ricas da nação.

No momento não há melhor exemplo para ilustrar a presença dos coronés, em nosso cotidiano, que Temer e seu ministério.

paulo de jesus
Enviado por paulo de jesus em 03/09/2016
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