Diálogos indiscretos entre Mi e Má – parte 2.

- Alô, quem fala? Mi, meu momô, onde você está?

- Estou voltando prá casa, Má, para o nosso ninho de amor.

- Não quis ficar mais? Deve ser tão legal aí. Tem um montão de chinês, não tem? Tudo bem fajuto.

-Não posso, Má. Tenho que pacificar o país.

-Ai, mô, como você é forte! Mas você devia ter ficado mais aí, dizem que tem uma muralha bem grandona, não sei porque fizeram, mas dizem que é bem chicosa.

-Má , use um vocabulário mais polido.

-Mais o quê?

- Mais elaborado, refinado, não essas coisas de ralé.

- Mi, olha só que maldade, me mostraram nesse tal de computador uma foto oficial que você aparece de lado, no escanteio mesmo, bem no cantinho, tadinho, que nem cachorro perdido em dia de mudança.

- Não se importe com isso, Má. Foi apenas um fotógrafo que não soube fazer o serviço direito.

- Mas, Mi, me disseram que tinha uma lista com os nomes de todos os presidentes e não o teu. Disseram até que tinha um chinês que tinha escrito “Mr. Fora Temer”. Tava lá que você era líder do Brasil. Líder do golpe, é isso?

-Má, eu não estou gostando nem um pouco dessa conversa. Você está ouvindo muito os comunistas, aquela curriola...

-Ah, tá. Mas, mô, deixa eu te contar – o Brasil tá tão diferente. Tem um montão de gente indo “pras” ruas pedindo eleição. Eu não estou entendendo muito bem, mas não vai mesmo ter eleição nesse ano?

-Vai, Má, mas eles querem outra eleição.

- Por que, momô?

- Acho que eles não estão gostando de mim – dizem que eu sou golpista.

-Ah, momô, eu dei golpe primeiro. Lembra quando eu tinha 20 anos e resolvi me casar com você, que tinha 63? Era golpe, bem, eu pensei que você ia morrer logo e eu ia ficar com muita grana na mão. Eu ia peruar pelo mundo afora gastando todo o dimdim do velhinho mala. Ainda mais, gostosa do jeito que sou, ia ser... ai ai ai não era prá contar. Puxa! Pronto. Falei.

- Amoreco, você que se enganou – fui eu quem deu um golpe em você. Eu queria mostrar que eu era o gostosão do pedaço, o maior comilão – meu sonho era ser chamado de kid gengiva, ou seja, o rei das bocas e você caiu que nem uma gaiata na conversa do vovô aqui.

-Você deu um golpe “ni” mim e eu dei um golpe “ni” você. Estamos quites, né, mô? Mas deixa eu te contar – dizem que amanhã em 18 capitais vão pedir a sua cabeça. Eu não entendi. Como assim, pedir a sua cabeça?

-É que estão dizendo que eu sou traíra, golpista e um monte de coisas mais. E dizem também que eu fui muito temeroso eu não fazer o fechamento dos jogos olímpicos, de fugir assim que dei o golpe junto com aquela cambada de calhordas. Olha só, já estou até falando como gente normal...

- Mas é só um jeito diferente e falar do teu nome, né, Mi? Temeroso.

-Não, minha amada Má, temeroso é o mesmo que pusilânime.

- Pus o quê?

-Pusilânime, que é o mesmo que patife, mofino, piegas, timorato, tremebundo.

-Treme o quê?

- Má, tente entender. Vou simplificar, falando um Português chulo – estão dizendo que eu sou cagão.

- Mô, que você é cagão, toda a torcida do Flamengo sabe, mas que você tem chulé eu pensei que só eu sabia.

- Não, Má. Não é chulé. É chulo, vulgar, pobre de conteúdo, essas coisas. Poxa!

- Ah! Outra coisa, benhê, hoje a Dilma foi para Porto Alegre e teve gente aqui na porta prá dar flores prá ela. Eu não gostei não. Não deram flores prá mim. Nem perguntaram por mim.

- É que são todos bobos, feios e com cara de mamão.

- Também acho, Mi. E disseram que lá, em Porto Alegre , ela vai ser ovacionada. Bem feito, vão jogar bastante ovo nela.

- Má, ovacionar não é jogar ovo. É aplaudir, saudar.

-Nossa, mô, como você é inteligente!

-Má, no avião a gente estava tão, mas tão receoso de enfrentar essa massa de comunistas que querem eleições diretas, querem que eu saia da frente do atraso que inventei junto com a corja da direita (olha só eu, de novo, falando como gente normal!), que a nossa parte mais recôndita estava até piscando. Estava até ardendo em chamas.

-Parte o quê, Mi?

- Aquela parte mais escondida do corpo.

- Ai, Mi, você fala muito chique. Eu não entendo.

- Vou ser claro - *&$#&¨(()(&*(¨$#() estava piscando.

-Creeeeedo, Mi.

- Má. Quero que você faça um estágio com o Serra prá ver se você consegue entender alguma coisa. Ele sabe bem pouquinho, quase nada, mas pode te ajudar.

-O Serra?

- É. Aquele que tem cara do tio que só aparece prá contar que alguém morreu.

- Essa é boa, mor. Gostei.

- A frase é da Rita Lee, aquela roqueira comunista, sacripanta.

-Ai, mô, que palavra linda! Amei. Quando alguém falar mal de você, eu vou dizer – ele não é nada disso que vocês estão falando. Ele só é o maior sacripanta do Brasil. Agora sim falei bonito, não falei, Mi? Mi,Mi, fala comigo, Mi.

Má, mais uma vez, não percebeu que não agradou o seu momô.

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P.S. Gostaria de pedir sinceras desculpas aos meus leitores. Não fica bem para uma mulher de idade madura usar um vocabulário empobrecido, até vulgar, como eu, infelizmente, fui compelida a usar. É que um golpe acaba completamente com o meu humor e faz brotar do meu coração o que existe de pior em mim - indignação, o duro sentimento de ser traída, juntamente com a sociedade que sofre, trabalha, luta e acredita.. Desculpem, por favor.

Vera Moratta.

Vera Moratta
Enviado por Vera Moratta em 06/09/2016
Reeditado em 08/09/2016
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