O moleque do busão

A fatídica noite de segunda feira era banhada pelo mormaço caloroso de um tipico verão tropical, o ar seco e rarefeito, dificultava junto á secura de minha boca, uma boa respiração. Mas, ainda sim, seguia por dentro de inúmeras escadas rolantes de diversas estações, onde via-se gente de todos os tipos: mulheres agradavelmente vestidas, numa típica moda de primavera-verão com saias, shorts e vestidos; pessoas exaustas pela devastadora segunda; e obviamente os pirados, que são levados ao mais profundo mergulho da mente e viajam olhando para as luzes do vagão ou para os olhares das alheios, (eu).

Penso então, como deve ser a vida de cada um deles, seus problemas e seus desafios, suas metas e sonhos, seus deveres e suas ambições. Será que são como os meus? Será então que somos todos um poço inalcançável de clichês? Concluo, que não.

Afinal se fossemos iguais e únicos, o mundo não teria movimento, não haveria o certo ou o errado, o culpado e o inocente, o Yin e o Yang. Não haveria a oposição, o contrário. E sem algo contrario, que nos desafie, como teríamos convicção do que pensamos?

Tenho muito reparado nas pessoas, visto como agem e reagem, como amam e mentem, como se entregam. E assim, me vejo cada vez mais nelas e penso: "Somos muito semelhantes, as histórias mudam, mas o enredo é o mesmo."

Os adultos, pessoas que perderam da infância, a alegria ou o encantamento, por sorvete ou luzes de natal. E que, hoje, se enfurecem ao achar que o mundo se acabou, por um mero detalhe de algo que tanto quis, como se não se sentisse adulto o suficiente para superar suas barreiras; sentem medo. Crescemos e seguimos a ordem padronizada da vida: os desenhos ficam chatos, a moda já não lhe veste, a TV já não fala sua língua, a comida e a musica se transformam, ou se adapta e mergulha nisso, ou nos tornamos uma ilha; isolados de tudo, e deste modo, nos tornamos os velhos rabugentos que varrem a calçada, toda a manhã, e fura as bolas que caem em seu quintal, jogada pela garotada da rua.

Ao mergulhar em profunda ideia, vejo-o, da janela de outro busão, a camiseta verde com algum personagem animado, a mãe ao lado segurando-lhe a mão fortemente, com um tom de autoridade, e ele, olhando vagamente para o busão em que eu estava. Ele olhava e fazia caretas a todos que não o via, seguindo o olhar de um por um, dos que estavam próximos á janela, até que o moleque encontrou os meus, e num extremo constrangimento, se encolheu e envermelheceu as bochechas. Diante deste ato, apenas cai na gargalhada, não me contive por tamanhas caretas e logo me lembrei de quantas e quantas vezes já fiz o mesmo na infância.

E em uma forma de entender meu olhar nostálgico, o moleque, tratou-se de mandar um joia. Poucos como ele, sabem conversar tão bem com os olhos.

Após este minimo fato, vejo que somos injustos com as crianças. Afinal, elas nos oferecem esperanças, lembranças e nostalgias, enquanto, nós, retribuímos-lhe o medo.

Johnny dos Santos
Enviado por Johnny dos Santos em 10/09/2016
Reeditado em 10/09/2016
Código do texto: T5756935
Classificação de conteúdo: seguro