Uma Fondue em Pirapora

Primeiro deixem-me apresentar-lhes o Eduardinho. Por mais que pareça ficção, o homem existe mesmo, é meu amigo, dentista, e mora em Pirapora, MG. Já morou em Coimbra, onde fez seu curso de pós-graduação, mas prefere viver em Pirapora, às margens do Rio São Francisco. Conheci-o através de meus cunhados, que já viveram em Várzea da Palma, pertinho de Pirapora, onde o conheceram. Eles têm muitas histórias para contar sobre o Eduardo. A última que me contaram é que ele construiu sua casa atual e, comprou uma banheira de hidromassagem. Quando foi instalar, ele percebeu que a banheira era maior, uns bons centímetros, que o espaço disponível. Muito prático Eduardo fez o seguinte: abriu um buraco na parede, enfiou a maldita banheira por ali e, por fora da casa fez uma cobertura no tamanho exato, como um degrau. Para usar a banheira o candidato deve enfiar os pés por baixo da parede. Inusitado, mas funciona.

Quando veio ao Sul pela primeira vez, fomos com ele ao Restaurante Bavária, em Pelotas, onde considero que se come um excelente linguado ao molho de camarões. Queríamos impressioná-lo com a nossa culinária. Para nossa decepção, o pedido do Eduardo foi: purê de batatas, um prato de cebolas cruas e azeite... Picou as cebolas, misturou no purê, com muito azeite e comeu, enquanto nós saboreávamos um excelente prato.

Em Rio Grande, fomos com ele à nossa extensa Praia do Cassino. Domingo de verão, uma multidão nas areias, fomos todos cochilar depois do almoço. Quando abri os olhos, o Eduardo tinha sumido. Formamos uma patrulha de resgate, mulheres para um lado, homens para o outro, pois a praia entrou para o Guiness, o livro de recordes, como a de maior extensão do mundo. Lá pelas tantas, avisto um carro com o porta-malas aberto e uma bunda saindo dele. Só podia ser o Eduardinho. Não deu outra: inquieto, tinha saído a passear e encontrou este homem que tinha batido a porta do Chevette com a chave na ignição. Quando chegamos, Eduardo estava entrando pelo porta-malas para desmanchar o fundo e adentrar até a chave. Conseguiu. Aliás, de Chevette ele entendia muito. Tinha um que, de tão velho, não tinha fundo em algumas partes. O passageiro via o chão passar perigosamente sob seus pés enquanto se deslocava. A chave perdida havia sido substituída por um botão (vergonhosamente imitado pelo Lada soviético, anos depois). Meu cunhado jura que, no fim da vida, o Chevette tinha tábuas no lugar dos bancos e que enfim, colocado no pátio da casa para repouso eterno, virou um galinheiro...

Mas o assunto era mesmo a fondue em Pirapora. Tendo morado na Europa, Eduardo conhecia a culinária européia e, sabendo da nossa preferência por fondue, resolveu improvisar uma fondue de carne. Quando chegamos para o jantar, lá estava uma panela de ferro, própria para uma feijoada, instalada sobre um fogareiro a álcool, que deixava a cena muito cômica quando se pensava na sofisticação suíça. Na falta de garfos apropriados, Eduardo havia cortado cabos de vassoura e neles espetado arames, devidamente torcidos na ponta, onde seriam postos os pedaços de carne de sol para serem cozinhados no azeite fervente. Muito impaciente Eduardinho desentortou o seu arame e colocou logo uns dez pedaços de carne a ferver. Depois era só pôr tudo no prato e jogar o molho por cima. Carne frita com molho. Se foi servido vinho, nem quero lembrar...

O bom do Eduardo é que a gente podia ter barrigadas de riso da fondue dele e ele nem ligava. Ainda não sei bem se é um grande piadista