LEMBRANÇAS

CRÔNICA

Há coisas que por mais que queiramos, não conseguimos explicar.

Às vezes somos surpreendidos por um momento reflexivo que nos remete a diversas situações. Hoje, por exemplo, amanheci num cenário que trouxe para mim instante de muita paz, sonho e esperança. De repente estava ali, num ambiente que mais parecia uma vila de pescador, poucas casas, poucas almas. Mas como era véspera de ano novo, muitas assim como eu, vieram de fora, somar com as almas ali já residentes.

Tudo para mim era bonito, as choupanas em suas simplicidades, aos meus olhos encantavam-me de beleza singular, mesmo que decoradas com redes de arrastão postas a secar e restos de barcos às suas frentes. Havia simplicidade em tudo.

Trajes rotos cobriam os corpos magros e amorenados pelo sol das almas do lugar.

A poucos metros o mar; aonde no final da tarde ia assistir meu tio tentar arrastar das águas salgadas do mar um peixe que talvez nem servisse para o jantar, ele munido com um fio de nylon envolto em uma garrafa, tendo na ponta um anzol, onde colocava isca, que acho que ainda estava viva, pois se mexia quando penetrada pela ponta afiada.

Em frente à rua principal, de barro batido, havia um braço de rio que passava por ali, à sua margem cajueiros se misturavam com plantas nativas, provocando uma paisagem de paz e tranquilidade. Sobre a sua copa pendiam galhos que nos levavam ao leito do rio, e lá de cima pulávamos naquelas águas quentes e despoluídas.

Ao meu lado um anjo, que me cuidava, mas também chorava comigo quando eu chorava, e que ria quando eu ria; nos protegíamos mutuamente. Era minha amiguinha, doce e inocente.

Tanto tempo. Essas LEMBRANÇAS nunca saíram da minha alma e do meu coração e as tenho hoje comigo, mas dos que antes.

Agora sei que as lembranças podem se materializar, depois de tantos anos aquele anjo reaparece e o tempo volta pra trás.

Múcio Amaral da Costa
Enviado por Múcio Amaral da Costa em 21/09/2016
Reeditado em 25/01/2017
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