VIVER É APRENDER A SE DESPEDIR. (A despedida de cada um de nós)

Viver é aprender a se despedir...

Acabei de chorar junto com a jogadora de basquete Janete.

A atleta se despede das competições com uma carreira virtuosa, vitoriosa, exemplar. Os ex-jogadores de basquete Oscar e Hortência, que trabalham como comentaristas de basquete na rede globo se emocionaram. Retornaram ao passado e rememoraram o mesmo sentimento de despedida das quadras da homenageada nesse PAN. Não conseguiram comentar as últimas imagens dessa campeã veterana de 38 anos. Os olhos do Brasil se embaçaram. Pena que as máquinas humanas não são como os automóveis. Não possuem os desembaçadores. Nesse sentido a natureza é mais básica que as montadoras, não oferece esses opcionais de fábrica aos seres humanos zero quilometro.

Torna-se impossível, ao ver uma comovente despedida como esta, não lembrarmos, não refletirmos as despedidas particulares de cada um de nós.

“A despedida de cada um de nós” começa na maternidade. Assim como uma semente se despede deixando-a de sê-la, pra se tornar uma árvore frondosa. De igual modo deixamos de ser “feto” para sermos gente. Quando somos promovidos à condição humana, passamos a ser protegidos por lei, e ter nossa vida protegida legalmente pelo direito, pela constituição, pelos direitos humanos, pelo código de defesa da criança e do adolescente. Temos direito à família, a escola, alimentação e etc...

Dar cabo à vida de um feto, o aborto, a pena é apenas um linchamento moral. Dar cabo a uma vida humana é crime, é assassinato. Abre-se processo e os réus são julgados.

“A despedida de cada um de nós” vai mais além, não só nos despedimos da nossa condição fetal, como também damos adeus ao “paraíso” que moramos. O útero, simbolicamente, é considerado por alguns estudiosos como o “paraíso perdido” relatado no livro de Gênesis. Vivemos cerca de 9 meses nesse lugar maravilhoso, depois nos despedimos pra nunca mais voltar. Aqui o fruto proibido é a luz no fim do túnel. Nos guiamos nesse caminho, comemos desse fruto e o Deus todo poderoso nos dá um prêmio e uma prenda. O Prêmio é a vida e a prenda é a “despedida”... esta prenda nos acompanhará eternamente, dominará nosso coração e nunca mais nos abandonará. Jamais nos acostumaremos a ela.

Daí em diante, o que se sucede, é uma sucessão de despedidas. Uma mais doída do que a outra. Já parou pra pensar na despedida da infância? O luto é inevitável...há pelo menos 3 tipos de luto: O Luto do mundo infantil (desenhos animados, fantasias, super heróis, imaginação...), o luto dos pais da infância (A música do cantor Fábio Jr diz tudo: ...”Pai vc foi meu herói, meu bandido, hoje é mais muito mais que um amigo”...) e por último o Luto da “morte” do “corpo infantil”. A sexualidade traz a força de seus desejos e degola um dos bens mais nobres da infância: a pureza.

Já a despedida da adolescência é exatamente a despedida da turminha, despedida dos ídolos, das canções, do primeiro beijo, dos grandes amigos do segundo grau, a despedida de aprender a dirigir...mas o que pesa mesmo, no meio de tudo isso, é a introdução deste ser humano imaturo no mundo adulto. Um novo horizonte se apresenta diante dele que o assusta.

Nessa faze é muito comum ocorrer a “síndrome de Peter Pan”, ou a “síndrome de Cinderela”...melhor dizendo: o desejo de não crescer! Nessa faze é muito comum um rapaz de 25 , 26, 27 anos desfrutar da amizades de garotos de 20, 19 anos. Ou uma moça de 23, ir pras noitadas com as amigas de sua irmã mais nova de 17 anos. Esse descontentamento com a idade demonstra claramente a tentativa frustrada de retornar a idade póstuma.

Após os 30 anos, nos despedimos das antigas ambições. Há que se ganhar dinheiro, comprar uma casa, se casar, ter um filho, abrir um negócio, terminar o doutorado e por aí vai. A partir dos 30 até os 50 anos mais ou menos não temos tempo pra mais nada. Não temos tempo pra participar mais ativamente da educação dos filhos, falta tempo pra conviver com os antigos amigos, falta tempo pra dar carinho pra nossas mães, que agora são avós de nossos filhos, em fim os efeitos dessas “pequenas grandes despedidas” é anestesiada pela falta de tempo.

Sem contar que, continuamente, fazemos amigos que caminham conosco um certo período e logo eles se vão deixando saudades. Os amigos da adolescência não são os mesmos da infância, que por sua vez são diferentes no período da faculdade. Os amigos quando somos solteiros são uns, quando namoramos, são outros. Os amigos mudam quando os filho são pequenos. Nesse troca-troca de amigos alguns permanecem na vida da gente, mas a maioria vai embora e nunca mais volta...

Na velhice nos despedimos daquilo que foi-nos agraciado na infância. Nos despedimos do vigor, da energia, da beleza física, vamos paulatinamente abraçando o cosmos. vamos nos despedindo da individualização, cada vez mais fazemos parte do todo e menos da parte. Vamos abandonando gradativamente os sensores que temos pra experimentar a vida, leia-se os 5 sentidos...cada vez mais vamos ouvindo menos, enxergando menos, apalpando menos, cada vez mais o que temos é a economia de gestos. Vamos nos despedindo desse corpo, aproveitando as últimas gotas da essencia da vida, até a despedida final.

Há de se acreditar que nossa energia vital se despedindo do planeta Terra, se transforme em alguma outra coisa...

FlavioFerr
Enviado por FlavioFerr em 24/07/2007
Reeditado em 24/07/2007
Código do texto: T578070