Paz na Colombia

Três eventos impactaram a América Latina esta semana: a existência desde agosto de um acordo de paz, assinado há pouco, entre o governo da Colombia e as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colombia); a derrota da concretização deste acordo pelo plebiscito de 2 de outubro e o Prêmio Nobel da Paz contemplado justamente ao presidente colombiano Juan Manuel Santos.

Gaúcho de Porto Alegre, acostumado a assistir anualmente os festejos da Revolução Farroupilha – revolta separatista gaúcha do século XIX em que fomos vencidos pelo Império do Brasil – senti-me solidário com o presidente colombiano derrotado no plebiscito.

Resolvi, então, telefonar para ele:

– Alô, eu gostaria de falar com o presidente colombiano Juan Manuel Santos.

– Sou eu mesmo. Pode falar.

– Eu sou João Menezes, médico, brasileiro aqui de Porto Alegre, cidade do sul do Brasil, e quero parabenizá-lo pela vitória ao ser escolhido como Prêmio Nobel da Paz! O senhor merece! Tenho acompanhado sua trajetória, seus esforços pela paz na Colombia. Penso, no entanto, que sua derrota no plebiscito por somente seis mil votos não pode entristecê-lo, nem desanimá-lo... E, estou surpreso de ter sido atendido ao telefone pelo senhor!

– João, nosso acordo de paz ter perdido por um número tão pequeno de votos e a imensa abstenção de 60% dos votantes mostram que não consegui ser um presidente popular... Por isso, resolvi mudar de atitude e permanecer aqui ao lado do telefone, conservando um canal aberto direto com o povo.

– Tive sorte, então, Presidente! Quero parabenizá-lo pela elaboração deste acordo de paz, fruto de um trabalho conjunto entre o governo e as FARC que durou quatro anos! Tudo alinhavado num documento de quase trezentas páginas. A paz na Colombia é um valor ético verdadeiro, universal, resultado de uma correta vontade política! No Brasil, tivemos um descarado conflito entre as elites dirigentes do país, envolvendo suas mais altas instituições políticas e jurídicas, que resultou na queda da presidente da República em pleno mandato. O governo interino que assumiu, ideologicamente localizado bem mais à direita, tem tomado decisões assustadoras... Colocar em risco conquistas sociais garantidas pela Constituição Federal de 1988 é um péssimo exercício de vontade política. É sobrepor os interesses e privilégios de um grupo acima do bem mais universal... É terrível!

– João, somos vítimas deste mundo globalizado, que tem na competição o mecanismo que o autoreproduz de forma cada vez mais intensa. Nós, pessoas humanas, sejam quais forem, já perdemos o controle sobre este mecanismo. A globalização é um trem desgovernado que cada vez aumenta mais sua velocidade... Nesse quadro, não sei para onde aponta uma vontade política mais universal... Quero apenas acabar com uma briga mortal na Colombia que já dura cinquenta e dois anos.

– Presidente, não se assuste com a derrota do acordo de paz no plebiscito. A insensatez democrática atual é geral! Ela teve como frutos recentes a destruição da ideia de uma Europa unida e em paz com seus países envolvendo-se no conflito bélico na Síria; a surpreendente incapacidade de socorrer economicamente a pequena Grécia e outro plebiscito infeliz – desta vez o inglês – de retirar o país da União Europeia. Quero aproveitar para fazer-lhe um convite, Presidente! Venha a Porto Alegre hospedar-se na minha casa para descansar um pouco... Vamos brindar, tomando um vinho branco gelado! Quero dar-lhe outro Prêmio Nobel. O Prêmio Nobel da Vontade Política! Ainda que simbólico...

– Quem sabe, agora, não seja esta a melhor proposta...

Miguel Wetternick
Enviado por Miguel Wetternick em 10/10/2016
Reeditado em 10/10/2016
Código do texto: T5786869
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.