TODA PRINCESA TEM UM FUNDO DE PLEBÉIA

Sabe aquele dia em que você acorda se achando a criatura mais esquisita da face da terra? E justamente nesse dia, você é obrigada a estar deslumbrante! Pois bem, vamos ao caos do causo do dia D.

Era a festa de confraternização do trabalho. Essa festa acontece uma vez por ano, e geralmente os convidados, alem dos chefes, chefinhos e chefões, também estão presentes os nossos clientes. E é aí que a mulherada vibra! A solteirona resolve achar sua alma gêmea, nesse evento, sem levar em consideração que para isso acontecer, não seria ideal encher a cara de whisky, dançar feito uma vadia de boate, e conversar cuspindo perdigotos involuntários nas pessoas. Mas isso não tem a menor importância para ela.

Peguei o convite na mesma manhã da festa, na mesma manhã que acordei me sentindo o Shrek, e lá estavam as letras minúsculas e discretas: traje social obrigatório! Eu tinha duas opções, ou culparia minha miopia e fingiria naturalidade com minha roupa normal, ou simplesmente não iria, ou que causaria choque alheio e geral.

Como toda boa brasileira, deixei para a última hora a questão da roupa. Ahhh, que merda! Vou ter que desembolsar uns 200 reais. Afinal, já que não faço parte do clube das solteiras vadias de boate que cospem perdigotos, tenho que ir linda, com classe, e por que não..sensual!? Pelo jeito vou ter que almoçar no shopping, e sozinha, as meninas do escritório estavam no salão.

Rumo às vitrines: hmm, achei! Vermelho paixão, que decote hein?! Vou provar. Adoro dar nome pra tudo, batizei o bichinho de: ”Vestido louca pra dar”, até que ficou bom, se eu quisesse uma demissão pós sexo grupal com a equipe do trabalho. O que não era o caso. E foi o que eu falei para a vendedora, que ficou embasbacada com meu comentário. Saí sem graça da loja, claro. Próxima vitrine: é ele! Amarelinho discreto, de alcinhas, lindo! Eu fiquei parecendo um quitutinho dentro dele, não muito caro, dentro do que esperava gastar. Pronto, vestida eu já estava. Agora só faltava me animar um pouco. Por isso passei no mercado e comprei uma garrafa de vodka, aquela que dizem que dá amnésia, não sei do que estão falando, afinal consegui escrever esta crônica!

Chamei as meninas do escritório para fazermos o esquenta, e nos maquiarmos em casa. Chegaram antes, e enquanto eu tomei banho, sequei o cabelo, passei chapinha e me maquiei, elas estavam lá: Algumas se maquiavam, pela terceira vez, no espelho da sala. Descobri há pouco tempo que essas ainda liam a Revista Capricho, outras no computador estavam nos sites de encontros, (bêbadas) uma no celular (bêbada), e a outra deitada no sofá chorando, (bêbada) e ligando pro patife do ex que acabara de chutar a coitada por causa de uma bailarina (que certamente não bebia nunca).

Chega, vamos à festa!

Chegando no local, elas se espalharam: a do ex trocada pela bailarina já engatou numa conversa com o Denílson, da agência MAX, horroroso por sinal, mas pra um ego ferido ele serviria. As do computador entraram na conversa dos diretores, sem serem convidadas, e daí? Acha que elas se importaram? E nem eles! As garotas Capricho foram direto pro banheiro, claro, conferir a maquiagem, fiquei imaginando como sairiam de lá, talvez com massa corrida nas bochechas.

Então, ao som de um bolero qualquer, eu me vi sozinha, chegando na festa. Não teria tanto problema se meu astral estivesse bom. Olhei pro salão inteiro, lembrei de uma matéria que li uma vez a respeito disso. Siga as instruções: Respirar fundo, esboçar um sorriso nos lábios (esboçar mesmo, já que eu me sentia o rascunho do Bob esponja), e ir sorridentemente pra galera. Mas nem precisei concluir meu raciocínio, me descobriram antes!

- Mariiiiiiiiiiiiii!!!! Ahhhhhhhhhhhhh!! Você está lindaaaaaaaaaaaa!! Aiiiiiiiiiiiii! Que saudadeeeeeeeeeeeeeees!!! Tudo bem? onde você comprou esse vestidooooooo? Adoreiiiiiiiiiiiiiii! Como você está? Que brinco é esseeeeeeeeeeeee?

Era a Ruth. Promoter de uma agência de modelos de pequeno porte. Até que era boazinha, se não fosse tão interesseira. Não que eu fosse rica e poderosa, mas minha função é definir as modelos pros eventos da empresa. Há! Eureca! Antes que eu respondesse as duas únicas perguntas que ela fez, sem estar interessada nas minhas respostas, ela encontrou o Malcom, dono da agência mais conhecida no meio. Tchau Ruth! Já me virando pra ir embora, esse tal de Malcom me puxou pelo braço.

- Que isso? Me larga!

(Gostei daquilo! Bonito o moço).

- Desculpe, mas não pude resistir.

(Nem eu. Pega de novo)?

- Então tome uns florais de Bach pra te acalmar os ânimos!

(Fui tão Idiota)!

- Desculpe. Só queria conversar com você.

(Eu não quero saber de conversa amigo, vamos pra casa e resolvemos isso lá mesmo, e te garanto que você não vai precisar dar um pio)!

- Olha, você vai me desculpar, mas o dia que você aprender a abordar uma mulher, você tenta de novo. Mas jamais me pegue pelo braço de novo! Eu hein, ficou maluco?

(Hunf)

Ele saiu meio decepcionado. E eu sentia que ainda pediria aquilo de novo.

Pronto, merda feita. Até que horas duraria minha insanidade? Garçon!!! Ufa, vodka. A banda começou a animar, mulheres dançando músicas que falavam: segura aqui, pega lá, vem roçar em mim, e faz beicinho. Vergonha alheia. Mais vodka. Chefes observando a pista. Clientes tentando modeletes e recepcionistas. Mais Vodka. Cadê meu brinco? Mais vodka. Vergonha alheia? Que vergonha? Ahh, vou dançar, todo mundo está se divertindo tanto! As pessoas estão lindas! Nossa, que garçon fofo! Vodka, e dessa vez com sorrisinho pra conquistar o servente dos deuses.

- obrigada por deixar minha noite mais alegre cumin!

(de onde tirei isso)?

Pista. Ops, cadê as meninas? Ahaha, estou nas nuvens!! Que música legal!

- Ruth! Oiii querida! Como é que dança isso mesmo hein? Ah ta, desce, sobe, mão no beicinho, esfrega a bundinha? Ahahaha, adorei!

Na descidinha até la embaixo, não sei o que aconteceu. POW! Caí. Estava sentada, rindo e procurando a Ruth pra me socorrer! Cadê a cadela? Vaca! Ficou com vergonha e saiu! Vou me lembrar disso.

E eu estava lá: no chão, minha maquiagem, a do método Roberto W. que passei uma semana testando em mim e que estava impecável até então, virou foligem no meu rosto. Um dos brincos, jóia mesmo pra não fazer feio, não existia mais. Meu vestido quitute virou quindim de boteco. Pés e mãos de princesa, com preço para a corte do rei pagar, viraram lixo de plebéia. Isso sem falar da minha vergonha, que do jeito que sumira, voltara. Com a diferença que agora não era alheia. Provavelmente eu tivesse ficado sóbria quando me percebi naquela situação. Ainda não tinha adquirido coragem pra olhar à minha volta e ver pessoas rindo com aquelas gargalhadas homéricas da minha cara, ou uma ciranda-cirandinha com a criança esquisita no meio, ou alguém com o coração muito bom e o veneno renovado sentindo dó da pobre menina bêbada caída no salão. Tentei me levantar duas vezes, quando..

- Oi, será que agora posso te pegar pelo braço?