O homicídio do arrombador de corpos
“Leve o lixo para fora”, “passe no mercado, compre farinha de trigo, ovos e leite”, “faça biscoitos e bolos”, “faça sorvete”, “faça sobremesas”, “compre seu anticoncepcional”, “compre um lingerie nova”...
Maldita vida de exploração! Suar sobre o chão limpo e sobre a cama com aquele porco... Urgh!
Traga-me a liberdade... a liberdade do prazer por querer, da autonomia!
“Fique de lado”, “de quatro é melhor”... meu corpo não é um boneco inflável, um ser inanimado. O corpo que você invade carrega minha alma, a alma cheia de marcas que tu deixas, Porco! Me enoja o teu toque, o teu olhar, teu sorriso cínico, Nojento!
Olhe para mim e tenha misericórdia! Meu corpo se tornou proibido por ti, de acesso restrito – e não permitido - somente a ti. Não me tomes mais sem meu querer...
Eis que ele se sacode na cama, sente o desfavor e a agonia que sinto. Uma pena não voltar a se repetir, uma pena ele não voltar a sentir... os grãos para roedores pontuaram, finalmente, minha história de dor e tragédia.
Não pisarei no velório.
Porém, no enterro cuspirei sobre o caixão já dentro da cova.