A mãe da fazenda.

Eram 12 irmãos, na fazenda, em um tempo que ter muitos filhos era algo natural.
Aliás um tempo que tudo era bem diferente, a família ainda se reunia nas refeições agregada em uma mesa enorme na cozinha. Tudo era feito no fogão a lenha, que servia nas noites frias para esquentar, fazendo papel de lareira na animada prosa da noite, que aliás não se estendia pela madrugada pois havia o costume de acordar cedo para a lida da roça.
Era um tempo de mais conversa e menos tecnologia, o único luxo que havia era um radinho na sala  que ouvíamos as notícias e os jogos de futebol com dificuldade devido a interferencia de uma chieira que dava mal para saber quando saía o gol, na época narrado pelos locutores Jorge Curi ou Waldir Amaral, famosos naquele tempo.
A casa estava sempre cheia, até que com os dias, os filhos foram se casando, saindo da fazenda para morar em outras cidades e até outros estados. Desta forma com o aumento das famílias era sempre uma festa quando chegava as férias escolares e todos se juntavam para grandes e inesquecíveis encontros, para a felicidade de minha avó ,incansável para fazer deliciosos doces, que naquela época chamavam de quitandas, servidas para os animados cafés da tarde.
Na cozinha havia um grande armário que toda vez que era aberto criava uma expectativa sem igual, imaginando o que minha avó havia feito no dia.
Era tanta sua importância que era carinhosamente chamada de "a mãe da fazenda", pois era considerada como uma verdadeira mãe, de tão carinhosa e dedicada.  
Em toda região não era seu nome de batismo que importava, pois para todos ela foi sempre a mãe que na fazenda residia.
Tempo passou, e hoje quando saio da cidade para ir rever a terra de tantas boas recordações, ao chegar na fazenda, ainda teimo escutar o barulho no piso de madeira do chinelo arrastando para vir ao meu encontro trazer um abraço, e claro, os saborosos quitutes feitos pela nossa saudosa "mãe da fazenda".
Assim como todos nós, a fazenda de certa forma também ficou órfã...