FOGÃO A LENHA.

Ainda consigo ouvir o estalar da lenha seca quando o fogo começa a pegar, quantas lembranças do velho fogão a lenha. Não quero desmerecer os fogões a gás, existem uma infinidade de modelos por aí. Fogões que atendem todo o tipo de gosto, fogões enormes, pequenos, com várias bocas, com menas bocas, fornos especiais, alguns ultramodernos. Existem modelos que são um espetáculo em beleza. E também existem aqueles monstros industriais, enfim, cada um possui o seu fogão a seu gosto e necessidade, mas… Como eu disse no início, eu não quero desmerecer os fogões a gás, contudo, eu tenho muitas saudades do velho e bom fogão de lenha. Quase não se vê fogões a lenha por aí, são exclusividade de moradores de sítios e chacaras, mesmo assim, esse velho guerreiro está caindo no esquecimento e virando peças de museu.

Quando criança eu morava em uma fazenda no interior de Minas Gerais, fazenda essa já mencionada diversas vezes em minhas crônicas. Na casa onde morei havia sim fogão a gás, mas este era apenas um enfeite, o titular absoluto era fogão a lenha. A minha mãe gostava do fogão a lenha, era muito raro eu ver a chama do fogão a gás acessa, mas o vermelhão, como eu gostava de chama-lo, trabalhava todos os dias incansavelmente, brasas vermelhas fumegantes, desde as primeiras horas do dia, antes mesmo do sol nascer. E continuava o restante do dia, na hora do almoço, na parte da tarde, e no jantar. Sempre havia brasas vermelhas durante o dia. Lembro-me com muitas saudades do vermelhão, principalmente em dias de frio. Quando chegava o inverno, eu gostava de me sentar bem de frente dele, gostava de esfregar as mãos uma na outra bem perto da chama para aquecer-me.

O nosso fogão a lenha havia sido construído pelo meu avô materno, não se parecia em nada com esses que se vê por aí, feitos de tijolos vermelhos a vista tão perfeitamente frisados. Não era assim, o que havia em casa era um tanto quanto rústico, todo em cimento queimado na cor vermelha -- daí o nome de vermelhão -- Meu avô também fez um pequeno compartimento na parte de trás que era o forno do fogão, funcionava que era uma beleza. A chaminé também era rústica, um pedaço de cano de ferro que ficava todo enegrecido pela fumaça. Na parte de cima, onde eram colocada as panelas, havia uma chapa de ferro fundido com buracos enormes, na medida exata para as panelas. A lenha seca era colocada meio que cruzadas, com gravetos secos menores para facilitar no momento de acender o fogo, tinha que abanar e soprar até quase perder o fôlego para conseguir fazer a chama ficar acessa e queimar os gravetos.

Os alimentos preparados no fogão a lenha pareciam ter outro sabor, quem já teve fogão a lenha compreende perfeitamente o que estou dizendo e sabe que não é exagero meu. A comida tinha outro sabor, até o cheiro parecia diferente, não se compara com os alimentos preparando na chama artificial do gás. Outra coisa bem particular e que fazia parte do conjunto eram as panelas de pedra. Minha mãe até o dia de hoje tem guardado essas panelas de pedra, são verdadeiras relíquias, elas são pesadas e demoram um pouco a esquentar, mas depois de aquecidas demoravam a perder a temperatura, essas belezas mantinham os alimentos na temperatura ideal por horas. É impossível esquecer desses momentos saborosos da vida, velho fogão a lenha ainda acesso nas minhas lembranças.

Eu sei que nos dias atuais, os fogões a lenha ganharam um visual todo diferenciado, eu já vi vários modelos por aí, em tijolos de cores diferentes e formatos diferentes. São belíssimas obras de arte, mas o vermelhão, meu amigo nas manhãs geladas de inverno, nunca saiu da minha memória. Talvez um dia eu tenha a oportunidade de construir uma replica do vermelhão em minha casa, e vou fazer questão de fazê - lo no mesmo estilo rústico e encantador de outrora, com a mesma chaminé de ferro fundido toda enegrecida pela fumaça. Talvez um dia quem sabe, em um pequeno sítio com um lago ao fundo, pássaros cantando nas primeiras horas da manhã, e a fumaça saindo pela chaminé, anunciando que o velho guerreiro ainda vive, talvez um dia amigo leitor, talvez um dia. Enquanto isso, vou manter a chama das lembranças acessas e em brasas na minha memória.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 27/11/2016
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