As insatisfações das mulheres

CRÔNICA

As insatisfações das mulheres

Dizem que Salão de Beleza é lugar privilegiado das fofocas. É nesse ambiente que as mulheres se tornam mais bonitas, ou pelo menos elas pensam que sim. Mexem nos cabelos, fazem unhas de mãos e pés, cuidam da pele com limpeza e hidratação... e tantos outros serviços que os Institutos de Estética oferecem. Tudo bem. Mas muitas saem de lá insatisfeitas também.

No salão de beleza à espera da minha vez para fazer uma escova nos cabelos, fiquei a ouvir mexericos, sem querer, pois estava lendo uma reportagem interessante numa revista. Eram conversas sobre “amigas” que tinham feito plástica no corpo, outras que fizeram lipoaspiração e tomavam a sopa de Juliana Gimenez e outras, ainda, que freqüentavam Academias, mas que estavam cada vez mais gordas, deixando o casamento balançado, como se casamento se desfaz por apenas problemas estéticos. E assim a conversa ia rolando pela tarde adentro.

Caro leitor, cara leitora, se essas mulheres soubessem que a vida íntima delas estava ali colocada para risos e chacotas de tanta gente, nem sei o que poderia acontecer...

Mas quero falar mesmo, não das mulheres que procuram melhorar sua aparência. O que é justo. Todas nós desejamos uma aparência melhor; queremos ficar mais elegantes e bonitas, queremos aparentar mais novas, portanto, mais felizes. Quero falar aqui das eternas insatisfeitas. Tão logo realizam o que querem, são tomadas de novas insatisfações, porque não têm um padrão de beleza e estética para sua idade ou porque há, subjacente a esses problemas de estética, outros casos que as fazem infelizes e que elas não revelam. São mulheres de cinqüenta anos, querendo ter corpo de uma jovem de dezoito, ter cabelos e cabeça de adolescentes...

E há muitas mulheres assim: eternas insatisfeitas. Quando adolescentes querem completar mais alguns anos para se casarem, terem filhos, um lar... Quando os têm, dizem que preferiam estar livres para sair, ir a festas, viajar...

As insatisfações tomam proporções maiores quando dizem delas mesmas. Se têm cabelos cacheados, querem tê-los lisos. E pagam os “olhos da cara” por uma escova progressiva para vê-los escorridos, que deixam, muitas vezes, o rosto comprido como os cabelos. Sem falar na mudança de cor. Hoje são pretos, amanhã põem acaju, no mês seguinte, louros. As que têm cabelos lisos querem tê-los cacheados. E para isso usam de todos os recursos do mercado da moda.

E o corpo? Ah! O corpo, meu amigo, minha amiga, sofre com um tomar de remédios, com tantos exercícios de bicicleta, barras, esteiras etc... etc...

Magrinhas querem engordar. Apelam para todo tipo de vitaminas associadas a antialérgicos que fazem crescer os peitos e a bunda. Imagine você, cara amiga, toda magrinha com uma bunda grande e peitos enormes!

Não melhoram sua aparência como pretendem, mas ficam piores.E as gordinhas? Essas fazem de tudo para ficarem magras! Ficam sem comer durante a semana, mas no fim de semana comem tudo a que têm direito. Adeus regime!... Voltam à realidade no início da semana e aí começam o regime de novo. Apelam para os remédios e chás. Há tantos nomes de chá no mercado, que outro dia uma amiga encontrou um complexo de chá com mais de trinta ervas, com o nome de Chá 30+7, com tanta indicação que mais parecia propaganda de Bombril, o produto de mil e uma utilidades.

Para satisfazerem o seu gosto, elas fazem de tudo, mesmo que no outro dia, voltem a fazer o contrário. Experimentam sempre o efeito sanfona: engordam, emagrecem, engordam, emagrecem... E flacidez dos tecidos passa a ser outro motivo das insatisfações.

É assim que certas mulheres estão sempre mudando alguma coisa em seu corpo, em seu rosto e em seus cabelos, seja através de remédios, cosméticos ou cirurgia plástica, nem sempre confiável. Pagam um preço muito alto por tudo isso. Quando dão certo, ótimo!

É a sua realização pessoal, desde que não fiquem voltando atrás. E quando não dão? Quando a insatisfação fica gritando dentro delas mesmas? E quando as seqüelas provocadas por erro médico as deixam mais infelizes que antes? E quando já não podem mais gritar?

Tudo será válido, desde que o preço pago pelas drogas, pelas cirurgias não sejam as seqüelas irreversíveis e em muitos casos a vida.

Beleza não é fundamental, quando se paga por ela um sacrifício nestas proporções.