A ruptura

Teseu acaba com o Minotauro e Creta é libertada do monstro que gozava de grande credibilidade. O Labirinto das informações confusas é destruído e cai o muro da vergonha e expõe pessoas pobres e traumatizadas pelo autoritarismo de regimes obsoletos. Dezenas de países se animam em tentar o exercício da democracia, mas muitos encontram pedras no caminho; o legado deixado pelos gregos não é tão democrático de ser praticado, pois o sistema têm suas complexidades próprias, entre elas a premissa de direitos e obrigações e, principalmente o direito maior: o da liberdade com responsabilidade, e, como nem todos conquistam ou encontram proveito de usufruir da liberdade passam a alimentar regimes ditatoriais e autoritários.

O acesso às comunicações expõe as vísceras de figuras que até então assustavam o cidadão comum. A relação de passionalidade entre o Estado e povo derrete. A venda de ilusão, matéria-prima importante do populismo, agora, é vista sem eufemismo e é tratada de forma simples e traduzida como discurso mentiroso. Na política ninguém chora no velório do caudilho; o político corrupto é desprezado e é considerado bandido comum: um mal para a sociedade.

A mudança é lenta e precisa-se de paciência. As percepções são moldadas ao longo de nossas experiências. O Estado não é o todo poderoso como nos tempos de Luís XIV. A frase “L’État c’est moi” (O Estado sou eu) perde prestígio e, em alguns casos, quando implícita na conversa causa indignação. O conceito de Estado renasce; e, cobra-se dele o seu papel de direito: o de regular e resguardar os direitos fundamentais do cidadão como suporte jurídico, o direito à propriedade pública e privada, a segurança de ir e vir, o cumprimento de contratos e das regras morais. Reconhece-se a virtude da eficiência e condena-se o Estado perdulário e abusador. Administrar toma o rumo acadêmico de bem conduzir os negócios públicos. Político que queima o dinheiro deixa de ser visto como louco e é preso com base nos princípios universais da moralidade. Os movimentos libertários continuam sendo propostas filosóficas, mas lembra ao Estado de não se meter onde ele só atrapalha. Alguns ministros perdem sua importância senão forem corretos e coerentes e são podados de falar em público. A consciência torna a pessoas mais seletivas e discursos regados de besteiras são vistos como desafio à inteligência das pessoas. O nojo pela inutilidade reascende a esperança por um Estado eficiente.

A torre de Babel dos discursos mentirosos de algumas figuras públicas, protocolados como governantes gera o mal-estar da incerteza. Com um salário mínimo em torno de 1 dólar a hora contra 8,5 euros da Alemanha, não se consegue entender como não conseguimos ser competitivos. O país, sem dúvida, é rico, tanto em recursos naturais como humanos. Onde está o problema que nos posiciona entre os países mais corruptos do mundo, a pior educação, o maior índice de criminalidade e a pior distribuição de renda do mundo, ingredientes próprios do subdesenvolvimento? Mas afinal, seria este o cardápio que comprova a ineficiência? Então não está tudo bem?

Como todas as coisas, sempre existe os dois lados da moeda, embora os gregos tenham deixado o legado do aprendizado de como criar um sistema democrático e republicano, ao mesmo tempo não nos ensinaram os detalhes de como acabar com o Minotauro, é o pulo do gato. Alguns mitos ainda permanecem, mas por quanto tempo?