Viagem aos Seios de Duília

Nada como viajar. Dificilmente, não surgem histórias, pelas quais nos sentimos no dever de registrar e com muito prazer.

Meu filho caçula intimara-me para que voltasse ao rincão de meu nascimento, o que não acontecia fazia sessenta e sete anos.

Viajamos alguns dias antes de minha mulher, nora e neto, para depois nos encontrarmos e iniciarmos nossas férias juntos a partir de lindo recanto brasileiro, internacionalmente visitado, Alter do Chão, distrito de Santarém, município do Pará, norte do Brasil.

Sentou-se a meu lado senhor regulando a mesma minha idade e, que , por coincidência, também estava voando para rever passado, bem passado. O encontro veio a calhar, pois tudo que me chamou atenção ocorreu e a desilusão seria o que traria por revisitar passado bem distante.

Apresentou-se com muita empatia perguntando-me: “assististe ao filme brasileiro, que rodou as salas em meados do século passado, Viagem aos Seios de Duília?” Respondi negativamente, o que ele lastimou: “pena, deixaste de assistir a um poema feito filme”.

Para demonstrar o que eu perdera, não se conteve e narrou seu conteúdo: “história de jovem, que vivia no interior de Minas Gerias e que tinha grande amor, Duília.”

E, continuou sua narrativa de forma tão impressionista, que transferia, para minha mente, o ambiente, as cenas e os personagens: “a vida do jovem chegara num ponto que exigia decisão. Concluíra o jovem que deveria partir , pois não tinhaa qualquer chance de trabalho e algum progresso na sua bela, mas muito pequenina cidade. O que retardava a ação era seu amor por Duília.”

“Enquanto caminhavam por recanto bucólico contou a Duília que decidira ppartir e quando. A jovem pediu-lhe para que o momento da despedida fosse sob frondosa árvore, que os jovens costumavam se encontrar. Pois bem, despediram-se e assim que jovem virou as costas e apressadamente saíra, com pequena mala, para pequenas coisas, Duília griou seu nome, abriu sua blusa e mostrou-lhe os seios, como a lhe expressar seu amor e a intenção dum dia a ele entregar-se .”

“Partiu o jovem e aquela linda e arrebatadora imagem o acompanharia em sua vida no Rio de Janeiro. Tornara-se funcionário público de nível bem baixo, mas sempre alimentando o desejo de voltar, para rever seu grande amor, marcado por seios lindos, como botões de rosa, prestes a desabrochar.”

“O tempo passou, aposentou-se e, a primeira coisa que fez foi arrumar pequena maleta para pequenas coisas e tomar o trem para voltar ao seu rincão e rever sua amada”.

“A cidade continuava pequenina e ao se aproximar da casa onde lhe indicaram que Duília vivia, deparou-se com mulher pendurando roupa num varal, que bem poderia ser caracterizada, fisicamente, como uma daquelas caricaturas de mulher, de alguns dos filmes de Fellini”

“A desilusão foi tanta que, em vez de aproximar-se para encontra-la, se dirigiu esbaforido à estação para pegar o próximo trem e retornar ao seu mundo, onde fantasiara com a imutabilidade do passado”.

O narrador e companheiro de viagem bateu no meu ombro como se nos conhecêssemos a muito e concluiu: “essa narrativa, foi espécie de preparação, para quando retornar à cidade onde nasci, que não vejo faz mais de meio século, não caia na mesma armadilha. Estou preparado, não para revê-la, mas, sim, conhecer em que cidade se transformou.”

“Meus amores, se vivos, ainda estiverem, certamente, estarão fisicamente, sofridas com a erosão do tempo, do mesmo jeito que qualquer um de nós. Entretanto, melhores, mais sábias e, espero que o convívio, entre jovens nas tardes de domingo, tenha sido guardado, como o guardei, com terna lembrança temperada de eterna gratidão”

Era tudo que precisava ouvir. Aquele encontro mais do que avisara a armadilha que me havia preparado. O restante da viagem foi só desconstrução da armadilha: as ruas que guardara como enormes, certamente estão bem mais estreitas, pode ser que aquela árvore que usávamos como trampolim para nos banhar no rio, nem mias exista, ou algum governate tenha mudado seu curso, assim como mudei o meu.

Aterrissamos e, antes que o companheiro de viagem descesse, agradeci não só por ter trazido material para registro, mas, muito mais por me ter preparado, para encontro tão similar.

Minha experiência, mesmo que amadora, já concluiu: nada como sair de casa, nem que seja para sentar para tomar cafezinho. É certeza de casos, que nos motiva a registrá-los.

J Coelho
Enviado por J Coelho em 13/12/2016
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