17 DE DEZEMBRO DE 1984 - DIA DO MEU ANIVERSÁRIO - GRANDE PEGADINHA NO QUARTEL

No dia 17 de dezembro de 1984, o dia em que completei 19 anos (sendo que era o mais jovem de todo o quartel), saiu também a primeira baixa, subentendidamente, quando os milicos mais comportados chegam ao fim do ano de serviço militar, sendo daí dispensados, saindo, em regra, com o certificado de honra ao mérito. Eu, entretanto, não estava incluso nessa leva, embora não tivesse punições, tenha tido ótimo comportamento e recebido muitos elogios durante o ano por relevantes (bem relevantes) serviços prestados para a unidade, inclusive elogios pelo boletim da unidade vindos da parte do coronel comandante, além de muitos elogios pelo boletim da subunidade. Todavia, depois de ressaltar que continuariam precisando dos meus préstimos de desenhista, o capitão justificara o me deixar para a segunda baixa com o ter que livrar-se de um colega problemático, que, se não dispensasse já, corria o risco de ser obrigado a expulsá-lo, o que ele não queria.

No início do ano, quando me viu fazendo com nankim um gráfico em papel supremo, entusiasmado, o capitão me ofereceu o engajamento, dizendo que se eu aceitasse teria a vaga garantida desde então. Também entusiasmado com a maneira como eu estava sendo tratado, aceitei a oferta e me comprometi com engajamento. Todavia, no correr do ano fui mudando de ideia ao ver a forma desrespeitosa como, às vezes, meus colegas eram tratados, especialmente com muito abuso de autoridade da parte do segundo oficial superior da nossa subunidade. Mas uma atitude extremamente desrespeitosa do comandante do NPOR para com o primeiro sargento do almoxarifado daquela unidade respaldou minha indecisão, consolidando de vez a decisão de não permanecer onde, ao meu ver, os homens não respeitavam aos homens e não parecia haver respeito nem pelos cabelos brancos dos mais experientes.

Quando o capitão me procurou, próximo ao final do ano, e me perguntou se estava em pé minha determinação de engajar, respondi-lhe que não estava mais interessado. Mas ele era como pai. Então ainda perguntou-me se queria sair na primeira ou na segunda baixa. Respondi-lhe que, embora tivéssemos sido ensinados que soldado não tem vontade, já que ele estava me dando o direito de responder, eu gostaria de sair na primeira. E acrescentei que tinha me esforçado para isso. Ele, entretanto, esclareceu que a Grupo ainda precisaria muito do meu trabalho, querendo me levar a pensar melhor no engajamento. Além do mais, acrescentou que precisava dispensar nosso colega problemático nessa leva, pois, do contrário, teria que passar pelo desgosto de expulsá-lo. E, por isso, eu sairia irremediavelmente na segunda baixa.

Todavia, eu gostava de contrariar um pouco. Então respondi que se não podia sair na primeira, na segunda também não queria sair. Antão sairia na terceira. Ele, porém, retorquiu, ratificando que eu sairia na segunda, pois ele era quem mandava.

E o dia da primeira baixa chegou justamente no dia 17 de dezembro, o dia em que eu completaria 19 anos e, como anunciado pelo capitão, meu nome não estava arrolado entre os que seriam dispensados. Além do mais, como presente de aniversário, fui escalado para tirar guarda nesse dia. Para a despedida dos colegas, tinha sido programado um almoço especial com galeto assado, para o qual nos fora descontado um valor do soldo. Entretanto, na hora do almoço fui posto de guarda no “guaritão” e quando fui rendido para almoçar já não tinha mais galeto em nem refrigerante. Para amenizar, porém, toda essa sordidez do dia do meu aniversário, naquele dia mesmo fiquei sabendo que o capitão iria dispensar por uma semana todos os que não saíram na primeira baixa.

Por fim, acabei saindo na terceira baixa e sem honra ao mérito. Mas isso é outra história que nem vale a pena contar. De qualquer forma, os que saíram na terceira baixa foram personagens da história do Brasil, pois nossa baixa atrasou mais um mês ainda por conta da “doença” repentina e inexplicada até hoje do presidente eleito pelo Congresso, Tancredo Neves. O que faria a transição entre o governo militar e o que seria eleito pelo voto direto do povo. Por causa da tensão geral, ficamos aquartelados, treinando controle de distúrbios e tirando serviço, inclusive de plantão do alojamento, com a arma carregada.

Além do mais, fui convocado para a Comissão de Recepção dos novos recrutas para o ano de 1985 e com isso garanti que meu primo Henrique Mello não fosse dispensado sem servir, além de poder facilitar um pouco a vida desses novos personagens das histórias do quartel.

Wilson do Amaral

AGRADEÇO A DEUS POR HOJE ESTAR COMPLETANDO 51 ANOS E TER TANTAS BOAS HISTÓRIAS COM TANTOS EXCELENTES AMIGOS PARA CONTAR.