Nada de Cuzcuz
 
Ontem, enquanto preparava o cuzcuz para levar à casa da Cris, namorada do meu filho, recordava os inúmeros Natais da minha vida ao longe de cinquenta e cinco anos. 
Natais como:
filha/criança
adolescente
aborrescente
adolescente trabalhadora
jovem adulta solteira trabalhadora
jovem adulta trabalhadora namorando
Adulta noivando,
esposa e nora, 
Mãe,
Avó,
solteira novamente,
mulher em metamorfose
e sei lá mais o que vem por aí nos próximos Natais.  Mas o cuzcuz tem que ficar pronto então volto ao presente, ao agora.
No fundinho da minha mente escuto risadas gostosas, até meio que escandalosas do meu Tio Jorge que partiu alguns anos atrás  e  deixou um vazio enorme. Sempre tem um engraçadinho na família para fazer piada e tirar sarro mas o rei absoluto sempre será o meu Tio Jorge.
Terminando o cuzcuz, escuto a voz dele sussurrar ao pé do meu ouvido, "Patty, você é uma lady. Nunca diga cuzcuz.  Diga bundas bundas".  Meus lábios viram num  sorriso maroto e algumas  lágrimas escorrem pela minha face. Meu coração fica apertado de saudades do meu Tio Jorge. 
A Cris viu a foto do cuzcuz que postei no Facebook e ficou com água na boca. Ao me ver chegar, ela grita, "Trouxe o cuzcuz, sogrinha?"

                       

Respondo sutilmente, "Cris, não diga cuzcuz. É muito  feio, deselegante. Diga bundas bundas".
E  numa  cumplicidade gostosa entre sogra e nora,  damos  risada  e  em algum lugar, nesse imenso universo, ou em outro, o Tio Jorge  solta sua gargalhada  tão  debochada. 
Calada Eu
Enviado por Calada Eu em 25/12/2016
Reeditado em 27/12/2016
Código do texto: T5862834
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