COISAS DA VIDA

Olha gente, está certo que é fim de ano, tem Natal e festa de Ano Novo. No dia 24 tem aquele tal de amigo secreto, ou amigo roubado. Tanto faz. Pois então, não quero estragar a brincadeira, mas convenhamos, como é possível ter um amigo secreto sem que um dos dois saiba? Amizade secreta é admissível, pois os amigos se conhecem. Imagina só você, na hora do sorteio, tirar uma besta quadrada como amigo secreto. É uma desonra! Pra não dizer ridículo. Ainda bem que a “amizade secreta” dura alguns minutos durante a troca de presentes, que nunca é o que você gostaria de ganhar. Se uma ninfeta gostosa te tira pra amigo secreto, irás pensar “coisas”. É perigoso, pois o marido está presente. E se você tira a sua mãe de amigo secreto? - Bah, mãe, tu além de minha mãe e amiga, agora também é minha amiga secreta! Gostei, mas não entendi. E se for sogra? Aí a coisa fica feia, pois tu nunca foste com a cara dela. (Consegue um abismo que eu que me jogar!).

Depois daquela nuvem de cinismo dissipar, vem o brinde com champagne, cidra, espumante. Não sei qual deles é pior? Todo mundo grita: Feliz Natal! Faz Tim-Tim e bota a taça quase cheia de lado e volta pra cerveja, muito mais emocionante! No final da festa está lá o retrato do desperdício: taças cheias.

Cá pra nós, esta tal de champagne é pra gente exibida, não é mesmo? Eta coisa bem ruim! Tem gosto de água azeda, não dá nem pra embebedar-se! Algum plantador de uva errou na fermentação, só pode. É a mesma coisa que comer aquele queijo apodrecido lá da Suíça e dizer: - Ah! Que coisa boa! É muito masoquismo! Isto não é bom gosto é “paladar de besouro”. (pesquisem no Google).

Mas, além de tudo isto, vem o pior: Você. Sabe, você é um provecto, que está ali sentado assistindo toda aquela “alegria” e, gente que você nunca viu na vida, está ali também. Tem aquele sobrinho que telefona pra você uma vez a cada cinco anos: - “Tio, o fulano morreu”. Ali na festa ele te deu um oi, virou de costas e continuou contando os seus “causos”. De repente ele solta um “pum”. Ele está perto de você, você está sentado e ele de pé. Literalmente, ele “peida” na sua cara e fala: - Desculpa aí tio, foi mal.

Você é uma planta, ou melhor, você se sente assim, e nem é tão decorativa. Esta é umas das coisas ruins de ser velho. Você fica invisível, ou quase. Se você levantar pra entrar no assunto, nada entende. Jovens falam outro idioma. Se você tentar enturmar-se, um deles pergunta: - Precisa de alguma coisa tio? Eu respondo: - Não, não, está tudo bem. Não é fácil.

Quero voltar pra minha casinha e botar o pijama. Tirem-me daqui, por favor!

Aí o álcool sobe às cabeças: “din don bel, din don bel, acabou o papel...”

O suicídio seria mais honroso pra mim naquele momento. Eu quero morrer!

Aí então, e, como se não bastasse, eles fazem uma roda e começam a cantar: ila ila ila riê,ô ô ô ô”! Eu não aguento:

- Cheeeeeegaaaaaaaa!

- Acorda meu velho! Que está acontecendo contigo?

- Estava tendo um pesadelo!

- Foi bom tu acordar, quero te avisar que o pessoal vem aqui em casa hoje à noite pra celebrar o Natal.