Só há o que temer!

Afinal, Temer, o que você desejava se realizou! Dia 13 de dezembro de 2016, o Senado aprovou a PEC 241/55 que congela os gastos públicos por vinte anos. Foram cinquenta e três votos a favor e dezesseis contra. Ficamos assustados...

O que está por de trás dessa votação, que, no meio de tantas outras, parece quase tão ingênua e sem importância, mas torna-se capaz de formatar num minguar progressivo, conforme a inflação, os aportes econômicos futuros destinados à saúde, educação, ciência, tecnologia e inovação?!

Você afirma que esta PEC do Teto é a primeira medida para a saída da recessão. É necessário fazer o ajuste fiscal de corte neoliberal, não é? Só que este filme nós já vimos antes... desde a crise econômica de 2008 que assolou principalmente a Europa. Caro Presidente, vamos refrescar a memória... Quais foram os frutos alcançados com aquelas medidas? Recessão econômica brutal, alto índice de desemprego, hipotecas, despejos, suicídios... Em Portugal, Espanha, Irlanda... A França ficou mal das pernas... E a Grécia caiu em desgraça! Clamoroso exemplo esse da falta de solidariedade dos países do bloco europeu! A Dilma até que tentou seguir o mesmo caminho neoliberal com alguma esperança, mas também não conseguiu nada...

Então, agora, chegou a sua vez de aplicar entre nós esta cartilha esfarrapada?! Você, como um menino disciplinado, está obedecendo a quem? Olhe no seu entorno! Está vendo algum brasileiro feliz, tranquilo e folgado? Estes certamente existem! Mas são muito poucos: pertencem ao grupo dos donos das grandes fortunas que mantêm os juros altos para benefício próprio e de seus pares de outras nacionalidades chamados “rentistas".

Num contexto mais amplo, Presidente, seu governo desordenado provém de uma crise de representação política decorrente da degradação moral que fez da corrupção um hábito arraigado no poder legislativo.

O poder judiciário, ainda que de forma muito pontual – e o ponto se chama Curitiba – parece assumir pela primeira vez de forma lúcida e dinâmica sua vocação constitucional. Acabou a farra! São muitos, hoje, os políticos que vivem com medo! Ufa! Nós brasileiros, enfim, podemos cantar: “Pátria amada Brasil!”

Ampliando um pouco mais o contexto, Presidente, nos deparamos de uma forma geral com a falta de controle sobre nossas instituições. Veja o comportamento inusitado do Presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros, ao desobedecer a ordem judicial para desocupar o cargo devido a sua condição de réu num processo denunciado pelo Ministério Público Federal ao Supremo Tribunal Federal! Lembre-se que existem contra o referido senador outros dez processos no mesmo tribunal.

Como se isso não bastasse, o que deixou todos os brasileiros de cabelo em pé foi o fato de o Supremo Tribunal Federal não confirmar em reunião do plenário com todos os seus ministros a liminar do ministro Marco Aurélio Melo dada dois dias antes. O episódio recebeu, então, uma decisão fatiada original: o senador Renan poderia continuar no cargo de Presidente do Congresso desde que fosse impedido de assumir a Presidência da República em caso de ausência do titular. Descaracterização do STF por conivência política?! Na República, a lei não impera mais?! Ou isso tudo foi um acordo de amigos?!

Presidente, nosso país é rico! Precisamos de um líder competente que aprenda com os erros do passado e busque caminhos novos com ousadia! Mas você parece estar postergando uma solução que não conhece... Está fazendo mais do mesmo... O que você acrescentou em relação ao governo da Dilma? Responde!

Nós brasileiros estamos, nesses momentos, imersos no espírito do Natal que nos convida a vivermos de forma alargada, ampla, sem entraves... Como diz o profeta Isaías: “Aumente o espaço de sua tenda, rápido estenda a lona, estique as cordas, finque as estacas, porque você vai se estender para a direita e para a esquerda, seus filhos herdarão nações e povoarão cidades desabitadas”. (Is 54, 2-3)

Temer... e você estreitando o nosso horizonte... Bah! Que barbaridade!!! E a única visão clara que temos agora diante do futuro do Brasil é esta: só há o que temer!