Percepções

Aquela mulher tinha medo de alguma coisa. Talvez do mundo, talvez de mim.

O cabelo ressecado pelo sol tapava-lhe o olho do lado direito, não mostrando por completo a sua face.

A cada pergunta, uma resposta seca, sem meneios ou espaços para conversações.

A caneta em suas mãos anotava rapidamente palavras e números indecifráveis em um pequeno pedaço de papel de pão.

Ofereci uma folha em branco, mas recusou-se imediatamente à minha gentileza.

Disse que não precisava me incomodar, que aquilo era uma forma de ajudar o planeta.

Respondi-lhe que a ação era uma boa ideia, e no mínimo excêntrica.

Ela, então, balançou a cabeça afirmativamente.

Dirigia-me a palavra com uma voz baixa, lânguida, como se escondesse algo.

E eu, perguntando-lhe num mesmo tom para não espantá-la de seu universo particular.

No final, agradeceu-me e quis gratificar-me pela ajuda prestada.

Para tomar um café, disse ela.

Serenamente, respondi que ajudar aos outros era um alimento para minha alma.

Assim, ela sorriu de maneira discreta, agradeceu mais uma vez e saiu lentamente da sala.

Juscelino Soares
Enviado por Juscelino Soares em 03/01/2017
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