Viva!

A gente aprende a viver nos primeiros momentos de vida: basta levar uns tapas, inspirar o primeiro fôlego e chorar. Pronto, aprende-se o drama que é viver. Pois a vida começa assim e continua não muito diferente disso. É tapa atrás de tapa.

Viver tem outras conotações. Cada qual decide a sua melhor, se hedonista ou materialista; se o carpe diem vai justificar o existencialismo, ou se o materialismo vai justificar o acúmulo de bens e riquezas. Os românticos acham que saber viver é dá valor as emoções, enquanto os realistas põem o pé no chão. Filosofias de vida há porque a vida não é linda, não. Ela é um círculo que nunca se fecha. Há sempre algo a mais a se alcançar... há sempre essa coisa opaca, algo que não se enxerga, essa coisa azeda, um resquício de fome, sede, vontade de comer...

E haja filosofia, psicologia e literatura. A autoajuda deita e rola para dizer: olhe-se no espelho e repita 10 vezes que se ama! E tanta teologia, tanta pedagogia e arte: agradeça a Deus o alimento de hoje, crie a criança assim para ela não ser assada mais tarde. Contemple a abstração que é o universo, essa obra de arte. E ainda tanta nutrição, tanto esporte, tanta coisa alternativa: coma fibras e faça exercícios para seu intestino funcionar e você ficar super bem.

Um arsenal de clichês sempre dá as caras para nos colocar a meditar. Em canções, peças, poemas, na cultura em geral: a vida é um soco no estômago, diria Clarice, e nosso dever é apenas vive-la até o fim; Shakespeare já diria que a vida é uma história que um idiota conta repleta de som e fúria e que sem significado nenhum. Leminski já diz que a vida é as vacas que se joga no rio enquanto a boiada passa. Vou deixar a vida me levar, vida leva eu, é preciso saber viver.

Mas porque é preciso saber viver, se para viver basta estar vivo? É preciso deixar viver, isso sim. Cada um no seu universo, sem pretensões de conversão, de se achar melhor. Ninguém sabe viver, porque viver é algo que não se ensina. Se alguém soubesse viver, esse alguém não morreria. Mas o que todo mundo sabe mesmo é morrer: nascer, crescer, se reproduzir e morrer. Brincar, Estudar, Trabalhar, Casar, Ter filhos, fazer crediário, pagar contas, tentar emagrecer, comemorar datas comerciais, tirar fotografias, talvez viajar... mas morrer é fatal.