Cada qual no seu cada qual...

CADA QUAL NO SEU CADA QUAL

Tem coisa que nunca se esvazia. Por exemplo, salão de beleza. Você já chegou a um para você ser a primeira cliente? No meu bairro têm uns dez, todos lotados. Eta, terra de mulher vaidosa. Pode faltar dinheiro pra tudo menos para arrumar os cabelos, cuidar das unhas, fazer depilação. Ora a moda é escovinha, depois é relax, escova progressiva, mega hair. As unhas ora são arredondadas, ora quadradas, francesinhas ou decoradas. Tem tempo que a melhor depilação é com cera fria e tem tempo que está na moda cera quente. Coisinha pra doer, mas todo mulher se submete para ficar mais bela. E lá, se pinta sobrancelha, levanta-se os cílios. Não é a toa que a mulher brasileira é bonita. Além de sua beleza natural ela é ainda vaidosa.

A Teresinha troca a cor do cabelo todo dia. Inventa que fulano não gostou que cicrano criticou. A Joana faz as unhas de três vezes na semana. Reclama que o esmalte saiu logo, que a unha quebrou. A Rita disse que o cabelo lavado em casa não fica bom. E vai quase todo dia lavá-lo no salão.

Dizem que tem gente que vai todo dia para o salão é para se divertir. Jogar conversa fora. Saber das novidades, cortar a “amiga”, enfim, fofocar.

Outro lugar que está sempre lotado é consultório médico. Você pode é marcar consulta, quando você chega tem três ou quatro na sua frente. E a enfermeira só explica que houve um atraso quando você reclama que a vez era sua. Quando reclama.

Ser esposa de médico é bom porque ele ganha bem para sustentar o salão da mulher. Mas ruim porque não se tem hora pra jantar. Todo dia o doutor passa das 7:00 ( 19:00 horas). Não adianta a placa: consulta de 14:00 às 19:00 horas. Só tem horário pra começar.

A Margarida culpa a enfermeira que não sabe agendar as consultas do marido e cansada de jantar sozinha, ela resolveu auxiliar no agendamento. Ficou intrigada porque a Josefa, a Creuza, a Graça, a Raimunda, a Rosa, entre uma outra cambada tinham consultas constantemente. E começou observar que nem cara de doentes elas tinham. Intrigada com o fato, indagou do marido:

- A doença dessas criaturas não tem cura, ou o médico não está acertando o remédio?

- Nem uma coisa e nem outra mulher. Deixe minhas clientes em paz. Elas estão bem. Apenas gostam de vir ao médico para conversar com as amigas, sair de casa, ler as revistas novas que ficam a disposição no consultório.

- Nossa! Que falta de gosto. Não teriam elas outro lugar mais agradável para se encontrarem e fofocarem?

- Minha querida esposa, você tem a sorte de ter um esposo médico que possa pagar suas tardes no salão de beleza. Minhas clientes nem sempre tem marido e se tem não podem sustentar esse tipo de luxo. Mas o SUS (Sistema Único de Consulta) paga a consulta entendeu?

CADA QUAL NO SEU CADA QUAL...

Maria Dilma Ponte de Brito
Enviado por Maria Dilma Ponte de Brito em 01/08/2007
Reeditado em 20/05/2020
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