Zapeando

Assisto pouca televisão, me falta interesse e tempo. Nas horas vagas que são escassas, prefiro outra diversão. Mas gosto de série engraçada, cuja estória se resolva no episódio. Bons personagens agradam, mas se tiver que acompanhar enredo, desisto na hora.

Caso saiba de alguma comédia que se enquadre na condição citada, avise. Não filtre informação, supondo que já conheço, por mais popular ou antiga que seja. O volume produzido é grande, e se depender de mim, pouco antenado, muita coisa boa escapa.

O que não me vai mesmo é a tal novela. Se é ruim, abandono e tudo bem. E quando é boa? Isto é raro mas acontece. Difícil esperar tanto para um desfecho que poderia se resolver em menos tempo. E aqueles diálogos politicamente corretos, plantados sem nenhuma aderência com a trama? Não aguento.

Impaciente, mudo o canal toda hora. Tenho motivos. Ora impulsionado pela míngua de conteúdo, ora o contrário, tento acompanhar programação interessante simultânea em duas, três emissoras. Também aciono o controle remoto por birra, fugindo de comerciais.

Por que essa tormenta de propaganda? Tarifa cara já não cobre os custos de tanta repetição? Metade é imposto, tudo bem, ainda assim deveria sobrar o suficiente pra que não houvesse necessidade de outra fonte. É muito abuso pra cima do assinante. Caramba, nem na televisão aberta existe comercial desse jeito!

Vou logo avisando, não quero interferência estatal na minha insatisfação de consumo. Sociedade livre se reinventa, paternalismo aniquila a evolução.

Meu pequeno vício é zapear. Deve ser verdade o que dizem, os homens estão presos a raízes ancestrais. O controle remoto da televisão nos liga às fogueiras do passado. Sendo assim, carregamos um fardo antropológico, não é mera mania nossa. Desde as cavernas, contemplar em silêncio o brasido esfriando é terapia do homem saudável. Mulheres entendam, não nos aborreçam em horas meditativas.

Já Prometi reclamar pra empresa sobre pacote inflexível, incluindo serviço que não uso. Por que não posso adquirir somente aquilo que interessa? Mas os dias passam, me acomodo. A pequena desforra, o controle remoto já citado, se volta contra mim.

O canal preferido parece adivinhar meus passos, conspira contra. Alterna comerciais, uns longos outros curtos, me quebra as pernas. Como prever intervalos aleatórios? Quando volto já perdi a melhor parte. Deixe estar. Diz o ditado, quando a esperteza é demais acaba engolindo o esperto.

Estou de férias, tenho tempo. Dia desses hei de executar revanche definitiva. Já migrei pra serviço similar por uma fração do preço da mensalidade convencional, sem burocracia. Será questão de encarar um telefonema, dar adeus pra TV a Cabo.

Nota

Zapear: mudar de canal com frequência