Assim são as mágoas...

Na hora dói um pouco. Depois passa. Na verdade, não dói pouco. Dói muito e parece que não vai passar nunca. A gente finge ser forte. Tenta ignorar a dor reprimindo o que sente.

É como bater o dedo do pé em algum móvel. Alguns esbravejam tentando, com isso, diminuir a dor. Outros, num grito calado, põem-se a segurar o dedinho enquanto as lágrimas rolam e o subconsciente tenta entender como pode doer tanto. Com o tempo, apenas a cicatriz no dedinho lembra o tropeção.

Há quem viva maltratando o dedinho do pé. Talvez porque seus pés nunca andam juntos com o coração. Estão sempre à frente. Acreditam que todo solo é de terras férteis e macias e que as rosas do caminho não possuem espinhos.

[...]

Se já machuquei meu dedinho? Sim. E o coração também. Mas, naquele dia doeu mais que o normal. O frio enrijeceu os músculos naquela tarde cinza de inverno agravando a dor. O dedinho não doía, mas o coração sangrava.
E então chorei. Chorei todo aquele inverno. E a primavera também. [Há dores impossíveis de suportar sem as lágrimas].
Gritos calados sufocaram a dor. E também as lágrimas. Elas se foram, mas as cicatrizes ficaram lembrando o tropeção.

Assim são as mágoas!



Dezembro 2014 - in 'diário de nós dois'
 
Suzana França
Enviado por Suzana França em 24/01/2017
Reeditado em 24/01/2017
Código do texto: T5891619
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