retomando a rotina

Retomando a rotina,

Acordo cedo com o canto longínquo do galo, em algum terreno esquecido na periferia da cidade ainda adormecida depois de uma noite de chuvas e ventos agitados. Passo meu café. Sorvo-o vagarosamente, tentando resgatar o aroma do quintal da velha casa de peroba, do moinho preto preso na mesa de madeira rústica, sem verniz, sem brilho. Do velho pilão, por onde passavam os grãos de café verde colhidos por meu pai e depois torrados pelas mãos frágeis e afáveis de minha mãe, em fogão de lenha. A manhã se torna perfumada, colorida e acolhedora, ainda que o sol, preguiçoso, dormitasse nos colchões de nuvens a bailar no céu. Vou para feira, compro mudas de ervas finas para meu filho: salsa, alecrim, manjericão, pimenta malagueta, hortelã. Cheiros que despertam saborosas sensações inexprimíveis. Visito o cemitério, converso com minha mãe, meu pai, meu irmão, peço intercessão. Ajuda. A vida não tem sido fácil sem eles! Minha mãe esboça um sorriso carinhoso na foto apagada do túmulo frio e imperturbável. Despeço-me com um beijo imaginário nos lábios ressequidos, e, engasgada com os pedaços da dor da saudade, parto. Ao ver as belas estátuas de bronze do mestre Jesus, em outros túmulos , não resisto, faço novos cliques. Ele olha pra mim. Eu pra ele. Nos entendemos. E tudo muda naquele instante de mágica e muda simbiose. Sigo então o meu caminho, com a alma leve e o coração transbordando de amor. Fortalecida pelo amor recebido, corro para a casa de minha irmã, acamada, onde poderei dividir um pouco desse amo, afinal, felicidade é isto: partilha e nada mais.

Benvinda Palma.

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 27/01/2017
Código do texto: T5894242
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