IPANEMA RADIOATIVA

Na primeira vez que estive em Ipanema, senti um misto de alegria e desespero na alma. Algo parecido com uma mãe dando à luz a um filho. No primeiro momento, dor. Dor de parto mesmo. Dor merecida a alguém que, contra todas as expectativas, teima em trazer mais um trabalhador, político, jornalista, corrupto, religioso, descarado, sensacionalista... ao mundo. Já no meu segundo, encarni-o de consciência, senti alegria. Alegria de saber que o mundo não para, que a vida continua, apesar da ignorância tétrica dos Neo-Sapiens-dertais pós-modernos. Ignorância sísmica! (...) Até bélica! (...) Dos que apesar da atrofia neuronial – em suas caixas cranianas – insistem em alimentar-se dos tutanos gordurosos da letargia educacional.

Ao contemplar tamanha exibição das nádegas, “glúteos”, para parecer moderno e eufêmico – expostas em uma vitrine, como se a densa areia da mais famosa praia do mundo – imortalizada por nada menos que Vinício de morais e Tom Jobim, fosse um expositor da grife: “Glúteos Brasilis” (sacanagem), enxerguei a triste realidade residente nas entrelinhas das mulheres do meu povo.

O Brasil, dantes conhecido por seus inventores (Santos Dumont,...); Poetas (Castro Alves,...); Escritores (Machado de Assis...); Estadistas (Rui Barbosa,...), Pensadores (Os Buarque de Olanda,...); estava ali, diminuído, resumido a meras ancas e potrancas. Triste! (...)

Eu, amante e defensor da mulher brasileira, senti-me ferido no meu orgulho patriótico. Decepcionado, com a banalização anacrônica da mulher Tupi-Guarani. Mulher que, em tempos mais remotos ou caravelados (para citar época), andavam como deusas, completamente nuas, totalmente despidas, livres... Embrenhadas nas matas, florestas e cachoeiras desse nosso afortunado ecossistema. Semideusas que ostentavam uma nudez cândida, decente, se comparada aos “fios dentais” e “cordões cheirosos”, das areias ipanemenses e outras (...)

Intimidado ante o banquete de Vênus, com Fálo e Afrodite (não há homem que não se intimide, diante de tamanha exposição) e sem querer fazer pose de moralista – pois o desprezo do que vi não era sequer questão de moralidade e sim de banalidade. Vulgaridade, no duro! (...) Lembrei-me – como forma de resgate – de Cecilha Meireles, Cora Coralina, Eva Vilma, Tônia Carreiro e Marieta Severo.

“Mas, o que isso tem a ver com o título desta crônica?” Você deve estar me perguntando. – Nada! (...) Nada mesmo! (...) É que eu acabei de ler esta frase: “IPANEMA RADIOATIVA”, em um livro de Arnaldo Jabor. Aliás, eu sou fã desse cara – exceto no fato dele ser ateu – mas, quem não tem defeito (rsss...). Aí, resolvi jogar conversa fora.