a mulher bem resolvida

Durante muito tempo eu pensei que ter liberdade era fazer tudo aquilo que eu tivesse vontade sem ter impedimento algum, subvertendo a ordem, as moralidades hipócritas e a educação rígida. Sendo assim todas as minhas crenças e comportamentos se pautavam na possibilidade de construir pra mim uma vida diferente do que é socialmente aceito como "melhor".

É claro que esse meu pensamento tem a ver com a minha trajetória pessoal, meu conhecimento em humanidades, minha as experiências com diferentes pessoas, o feminismo também.

Dentre todas as características da minha personalidade sei que o mais evidente sempre acaba sendo a minha postura sobre minha sexualidade: como eu lido com ela é sempre alvo de curiosidade e desejo principalmente, o que sempre me levou pra seara dos prazeres infindos.

Pois bem, não é crime nem pecado ter a sexualidade livre e eu percebo que muitas pessoas com as quais me relaciono possuem também essas características que até então eu assumi serem minhas: se relacionarem com tantas pessoas quando pudessem, assumirem seus corpos e desejos sem medo nem culpa, nem mesmo vergonha do que qualquer um pudesse pensar. Cresci com o pensamente de que fazer isso era ser "bem resolvida", mas acho que cheguei a conclusão de que essa pessoa não cabe em mim.

A minha geração é dos que pegam, gozam, transam e ficam sem medo de julgamentos e pensando em sua própria liberdade como motor de suas escolhas. Continuo achando digna a postura de quem lida assim com sua vida, mas descobri que eu mesma não sei fazer isso. Não consigo achar normal alguém imaginar que é só me dar um oi no facebook e automaticamente estarei nua esperando por mais um encontro casual. Não. Eu também tenho escolhas, critérios, desejos que vão além dos que permanecem entre os lençóis. Todos temos, não sei porque eu deveria aparentar (ou ser) diferente disso.

Eu não vou assumir mais a imagem de alguém despojado de sentimentos em relação as pessoas com quem mantenho alguma intimidade, com a esperança de que isso soe como maduro ou adulto. Assumo aqui minha humanidade em ter afetividades em momentos inoportunos (ou talvez que eu julgasse jamais ser possível), em me importar com quem aparentemente não se importa com o que eu sinto, em esperar que as pessoas ajam mais do que uma pedra quando chegam até mim com a esperança de que algo aconteça entre nós.

Tenho sentimentos e eles não aparecem por escolha própria ou se anulam quando eu quero apenas sexo, eu não sou uma pedra, eu não sou um buraco, eu não sou uma boceta. Eu gosto de conversar, de conhecer as pessoas com quem me relaciono, eu me importo, eu acredito. Provavelmente eu sou ingênua, não importa, sou uma pessoa que ainda não se descobriu por inteiro, mas até lá só me vem a mente o Zeca Baleiro quando diz: "Pra chegar na minha cama tem que passar pela sala"

Acho que afinal ser "bem resolvida" e madura é assumir a pessoa que realmente sou e cá estou eu. Espero ser bem recebida.

Ruana Castro
Enviado por Ruana Castro em 30/01/2017
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